quarta-feira, junho 04, 2014

O bom filho à casa torna...entrevista com João Oliveira

 

Cartão do Melómano 

Nome: João Oliveira.

Idade: 40 anitos.

Coleccionador há: A aquisição com a intenção de ser para coleção só tem expressão a partir de 2010. Até 2010 foi um acumular aleatório de música Metal em diversos formatos (vinil, CD, Cassete, VHS, DVD, BluRay). Por isso só me considero colecionador há 2 anos.

Coração de: Metal. Mas o espectro vai desde o Rock ao mais brutal do Grindcore. 

Primeiro Disco: Iron Maiden, “Number of the Beast”, comprado no Centro Comercial OKAY na Amadora.

Último Disco: Candlemass, “Psalms For The Dead”.


Sonho todos os dias com: O único disco que me atormenta ainda não o ter é Bathory – “Bathory” (yellow goat), mas na versão original, não nesses 10 mil bootlegs que existem a circular (risos). 


O Inicio

Qual o teu primeiro contacto com a música?

Primeiro contacto que tenho memória foi em finais de 70, por motivos profissionais o meu pai passava horas ao volante a fazer viagens de norte a sul. Na altura ainda se ouvia cassetes de cartucho ;), e claro, de música tradicional portuguesa.

No início houve alguém que te influenciou ou foste tu próprio que ganhaste este gosto especial de ouvir música?

O gosto pela música nasce no inicio da juventude, claro que a influência surge dos amigos da escola, dos primos e familiares em casa, ou eu próprio também seria uma influência para todos eles com as descobertas que ía fazendo e, de certo modo, partilhando entre todos. Em 81-82 já não passava sem hard rock ... ;).


E o teu primeiro disco, como foi essa memória e o que representou na altura?

O meu primeiro disco foi Iron Maiden-The Number Of The Beast. Na altura o único impacto que teve foi eu ficar sem almoços e lanches durante umas semanas. Estávamos na década de 80, os papás e as mamãs não tinham dinheiro para os filhotes gastarem em entretimento como hoje em dia, quem quisesse ter algo tinha que poupar dinheiro primeiro. Como o único dinheiro que via era o que me davam para os almoços e lanches na escola (e mais algum nos aniversários, Natal, etc), era com esse mesmo dinheiro que tinha que gerir as compras dos tão sagrados discos e fazer a viagem a Lisboa (quando não se fugia ao pica) às discotecas Motor, Palladium e à outra perto da saída do metro da Rotunda, a qual não me recordo do nome. Agora esse mesmo disco é guardado com um sentimento nostálgico indescritível.



A paixão

O modo como vês e sentes a música mudou muito ao longo dos tempos?

Num modo geral não. Ao longo de todos estes anos nunca consegui viver sem música, apesar de durante mais de uma década o género musical mais ouvido não ter sido o que alimenta a minha maior paixão musical. Num modo mais especifico do Metal, sim, há evoluções musicais que puxam pela nossa adaptação à música. No entanto esta adaptação tem limites :).

Como é que as pessoas que te rodeiam e que conhecem esta tua paixão vêem o facto de teres tantos discos e itens relacionados com música?

Sinto que vêem o meu fanatismo da mesma forma que eu os vejo gastar dinheiro em viagens para se esticarem ao Sol numa qualquer praia a 5000km de Portugal, ou a comprar um qualquer carro topo de gama e ficarem empenhados mensalmente até aos pelinhos mais pequeninos :).


Compras um disco e quando chegas a casa qual é o teu ritual?

A análise de tudo o que há para ver na capa, no booklet, no inner sleeve, toda a informação que há para absorver da edição que está nas mãos... e claro colocar o lindo do disco a debitar as frequências sonoras :)


Tens algum cuidado em especial que queiras partilhar sobre limpeza e conservação dos discos? 

Penso que os cuidados são os mesmos que todos utilizam. Manter os discos na vertical e mantê-los limpinhos no interior. Nada de dedinhos sobre as faixas, sempre o mínimo contacto possivel no ouro sagrado. Quanto à parte de mantê-los dentro de capas plásticas, aí sou um pouco desleixado, são raros os que estão nas capas plásticas.


De que forma organizas e arquivas a tua colecção?

Fisicamente está arquivada por ordem alfabética dos artistas/grupos. É a forma mais rápida que encontro para identificar o album que procuro. Nos últimos tempos tenho também tentado criar uma lista da minha colecção com recurso a uma base de dados online. 


Quantos discos tens no total, considerando todos os formatos físicos?

Para ser sincero não sei o número exacto. Nunca contei, nunca tentei contar, nunca tive interesse em medir a ........ :). Mas sem qualquer dúvida algo muito próximo das 4000 edições (vinil, cd, vhs, dvd, bluray e cassete).


Qual é o item ou os itens que mais destacarias da tua colecção seja pelo afecto que representa, seja pelo próprio valor comercial ou em termos de raridade?

Há uns quantos itens que hoje em dia marcam-me emocionalmente porque fazem os marcos na história no meu envolvimento com o Heavy Metal. Incontornável claro, o primeiro disco que comprei (Iron Maiden-Number of the Beast). A primeira edição underground que comprei, (Thormenthor-Self Immolation demo-tape). O disco de Minotaur (Power of Darkness) comprado à banda quando eles passaram por cá num concerto no Poço do Bispo. A primeira contribuição para o mundo metálico (Dark Mist-Behind A Black Curtain demo-tape). Duas edições que considero de uma originalidade muito elevada (para a época claro): Helloween-Dr Stein (gimmick gatefold) e Possessed-Beyond the Gates.


Alguma vez perdeste a cabeça a nível monetário na aquisição de um disco? Qual o valor que gastaste?
Já ... muito dinheiro ... este (vê foto: Morbid Angel-Blessed Are The sick)


Tens alguma banda em particular que tentas ter, não só os álbuns oficiais, mas também singles, ep´s, maxis e bootlegs?

Não tenho nenhuma banda em particular, no entanto tento conseguir face ao orçamento disponível as edições de bandas como Candlemass, Bolt Thrower, Amon Amarth, Pungent Stench, My Dying Bride, Paradise Lost, Morbid Angel, Therion.

Em média, quantos discos compras por mês?

Depende das edições novas que saem, porque essas consomem mais recursos monetários que as edições antigas/usadas. Este ano de 2012 tem sido quase sempre edições/re-edições novas, porque tem saído muito boas edições. Quantitivamente apontaria para umas 25-30 edições (vinis) por mês.



Onde costumas adquirir os teus discos?

Mailorder, pre-order directo das editoras/bandas. Ebay e amazon também fazem parte das "fontes". E volta e não volta faço uma visita ao Luis Lamelas ali nas Galerias S. Jorge (Amadora). :) 


Qual o local mais improvável onde adquiriste discos?

Estar de viagem de férias a Paris, ao passar num mercado saltou-me aos olhos um vinil. Acabei por comprar dois.

A(s) melhor (es) aquisição (ões) de sempre, aquele dia glorioso em que voltamos para casa ainda a nos beliscar se realmente aconteceu?

Qualquer aquisição tem sempre o seu momento especial. Ao longo deste anos claro que tenho tido muitos momentos de borboletas na barriga, quer na espera pela edição, quer quando chega às minhas mãos e começo a abrir a embalagem. Mas num passado muito recente a experiência passou pelo EP: Kreator-Phantom Antichrist EP. Dou comigo muitas vezes a idolatrar aqueles dois EPs :).



Qual é o teu Top dos melhores discos de sempre, aqueles que independentemente do género aconselhas todos a ouvir antes de morrermos pelo menos uma vez?

A minha paixão vive no Metal, logo abums mais antigos como Led Zeppelin dos Led Zeppelin, Machine Head dos Deep Purple, Paranoid dos Black Sabbath, 2112 dos Rush ou mesmo Dark Side of The Moon dos Pink Floyd e Incantations de Mike Oldfield são incontornaveis. Numa era mais recente já vincada no puro Heavy Metal, albuns como Aces of Spades-Motorhead, Black Metal-Venom, Powerslave-Iron Maiden são brutais e autênticos marcos históricos do Heavy Metal. Claro que depois podia criar uma lista interminável, pois existe muito boa música digna de ser ouvida pelo vasto expectro dos sub-géneros do Heavy Metal, exemplo; Pleasure to Kill-Kreator, Masters Of Puppets-Metallica, Reign in Blood-Slayer, Walls of Jericho-Helloween, Obsessed By Cruelty-Sodom, Left Hand Path-Entombed, Altars of Madness-Morbid Angel, Scum-Napalm Death, Gothic-Paradise Lost, The Angel and The Dark River-My Dying Bride, Bathory-Bathory, Under Funeral Moon-Darkthrone, The Principle Of Evil Made Flesh-Cradle Of Filth, Warmaster-Bolt Thrower, Heart Of The Ages-In The Woods, Always-The Gathering, enfim ... imensos :). 


Sei que abrandaste durante uns anos este teu ímpeto colecionista. O que levou a essa pausa? O bichinho ficou por aí e acabou por falar mais alto…Parece algo que não controlamos, não achas?

De facto após a universidade, em finais de 90, ouve um ligeiro afastamento do mundo do Metal. As saídas com os amigos à noite, as sonoridades dos ambientes nocturnos, o manter dessa cultura musical electrónica levaram a um desligar do mundo do Metal. Entrei assim num periodo sabático em relação ao Metal que foi prolongado anos mais tarde com casamento, vida profissional muito activa e muitas outras condicionantes da vida. Fiquei assim durante praticamente uma década um pouco afastado activamente dos meandros do Metal e de armazenar edições. Mas sim, o gosto pelo Metal nunca saiu, já deve fazer parte da minha circulação sanguínea, foi como uma qualquer injecção que se apanha na infância, nunca mais saiu. lol


Durante a década de 90 estiveste ligado a uma importante distribuidora underground. Que memórias guardas desse tempo e o que achas que conseguiram mudar no metal em Portugal? O que mudou entretanto? 

Heh. Estavamos no ano de 1993 quando eu e o Luis Simões (também tem uma colecção muito interessante :) ), na altura colegas de turma na universidade, decidimos fazer algo diferente das famosas listas tape-trading que existiam na altura. Já nessa época, 70% dos discos que comprava vinham de fora do país, e influenciado pelo catálogo da Nuclear Blast, decidi criar a JL - distro. Passado meia dúzia de meses, depois de notar que a distribuidora oficial da Osmose Productions para terras do uncle sam também se chamava JL, mudou-se o nome para Lusitanian Distro. Em 1995 com o lançamento da primeira edição criou-se o nome Lusitanian Music. Seguiram-se uns anos dos quais me orgulho bastante por de certa forma disponibilizar ao pessoal metálico do profundo interior de Portugal e ilhas imensos títulos a preços 30-40% mais reduzidos que nas lojas da altura. Nessa época pre-Musica Alternativa, raras eram as edições de topo de Death Metal que chegavam a Portugal. Também durante esses anos a contribuição foi muito intensa noutras áreas mais promocionais, com elaboração de booklets, flyers, bios, promo-sheets, promo-tapes, para editoras e bandas como por exemplo: Abstract Emotions, Solistitium Records, No Colour Records, Shiver Records, Desire, Det Hedenske Folk, Vargariket, Desire, In Tha Umbra, Funeral Cult e um infindável número de outras entidades ligadas ao underground metálico da época. Mais tarde surge talvez o maior legado que deixei (até hoje) no metal underground nacional, a edição de dois números da Hipocrene Mag. Foi a primeira tentativa em Portugal de fazer uma publicação com impressão em gráfica e a cores, com conteúdos da cena internacional e nacional, entrevistas sérias, com conteúdo em vez de expôr somente as bios das bandas ou entrevistas clichés e vazias. O objectivo era ser uma distribuição grátis. Claro que apesar da ajuda editorial no primeiro número do Daniel Marújo, e no segundo número do Luis Pedro (Entulho informativo), havia a componente financeira que era 100% suportada por mim. Esta componente ao terceiro número passou a ser incomportável, falta de apoios, foi a morte do projecto. Ficaram na gaveta (as quais ainda guardo religiosamente) entrevistas a Paradise Lost, Samael, My Dying Bride, Entombed, Necromantia e mais algumas.


A tua colecção, apesar de maioritariamente estar focada no metal, abrange as suas mais diversas vertentes e revela-se bastante heterogénea. Há algum subgénero dentro do metal ao qual dediques uma atenção especial?

Posso dizer que há uns subgéneros aos quais não dedico em nada a minha atenção. Costumo chamar-lhe o metal dos pulinhos, dos riffs guitarra aos solavancos, não entra no meu crânio. Gosto muito do velho tradicional speed e thrash dos finais dos anos 80 e do muito bom Death Metal do inicio dos anos 90 (felizmente hoje em dia ainda há bandas a fazer muito boa musica). Adoro os sons melancólicos dos três deuses britânicos (Anathema, Paradise Lost e My Dying Bride). E não consigo dizer não, ao Black Metal, não como forma de estar ou radicalismos associados, mas ao Metal tocado por essas bandas, sejam elas Northern ou Southern, grind ou suicide ;).


Focas-te igualmente muito em bandas e discos dos anos 90. Foi aí que cresceste enquanto ouvinte? 

Fins anos 80 e inícios de anos 90, foram talvez os melhores anos do Speed / Thrash / Death metal. É aí que me sinto melhor sem dúvida. Bandas como Iron Maiden, Slayer, Metallica, Kreator, Candlemass, Running Wild, Helloween, Over Kill, Exodus, Carcass, Entombed, Bolt Thrower, Unleashed, Gorefest, Dismember, Pungent Stench, Benediction. Mas as raízes estão entranhadas desde 1982-83, foi na primeira metade de 80 que cresci a ouvir Metal.


Preferências...

Vinil, CD ou Cassete?

Vinil.

Vinil preto ou colorido?

Preto.

Picture Disc ou 180gramas?

180 gramas, mas os pictures-dics são mais lindos :)

Gatefold ou capa Simples?

Gatefold sempre, o artwork é mais apetitoso.

Formato 12” , 10” ou 7”?

12''. Mas os 7'' são mais sexys.

Jewelcase ou Digipack?

Digipack.

Primeira prensagem ou reedição luxuosa?

Ambas, cada qual tem o seu particular interesse. Apenas não gosto das reedição que não oferecem nada de novo.

Lojas físicas ou Internet?

Internet.


Saída de Áudio


E para ouvires os teus discos, que artilharia pesada utilizas?

Não é muito pesada, excepto o amplificador (just kidding). Agora a sério, é tudo material muito antigo, à excepção do pre-amp que comprei no ano passado (o Cambridge audio que tinha não dava para usar usb ao PC). O leitor de CD tenho desde 1989 (à conta do CD Morbid Angel-Altars of Madness, pois trazia faixas bonus em relação vinil, manias dos finais dos anos 80):
Prato: Rega Planar 2 com célula Rega Elys
Pre-amp: Project Phono Box V
Amplificador: Pioneer VSX-405 MkII
Leitor CD: Pioneer PD-S502
Leitor Cassete: Pioneer CT-W505R
Colunas: B&W 601 S3 + Subwoofer B&W 608


Tens o teu lado audiófilo ao nível do HI-Fi ou apenas gostas de ouvir musica desde que soe bem sem te preocupares muito com a busca do som ideal?

Tenho um pouco de audiófilo comigo, mas não quando as sonoridades estão no campo do Metal. Estamos a falar de música que ela própria já contém distorção por natureza, algumas das produções são muito miseráveis (é um género musical muito pobre, no que respeita a aluguer de estúdios e condições de gravação / produção de albuns, etc), nada comparável a jazz ou clássica. Desde que ouça as frequências, baixas e altas, e não tenha os mids a parecerem uma grafonola da feira, já está perfeito ;).


Há algum instrumento que te cative mais quando estás a ouvir musica?

A bateria ...


Tocas ou gostarias de aprender a tocar algum instrumento?

Arranho bateria ... infelizmente nunca desenvolvi o meu gosto, como muita pena, uma vez que adoro e dedico tanto à musica.


Ao vivo


Primeiro concerto?

O primeirinho ... foi com os meus primos no Dramático de Cascais na tour do Powerslave de Iron Maiden. Prenda de anos dos meus tios quase meia dúzia de dias de fazer 14 anitos.


Melhor concerto de sempre?

Ora esta questão não é fácil. Sou tentado a invocar os primeiros concertos dos anos 80 no Dramático de Cascais, ou mesmo as Tardes Metálicas do Rock Rendez Vous que mostrou tantas bandas nacionais e internacionais ao pessoal na década de 80. Mas por uma questão de ser talvez o concerto que mais me tocou emocionalmente na altura, Paradise Lost no Belenenses em 1994.


Concerto de sonho?

Contento-me com pouco, bastava ter Amon Amarth + Bolt Thrower no mesmo cartaz.


Que banda gostarias de ver ao vivo e que já não vai ser possível?

Type O'Negative.


Literatura


Tens por hábito comprar livros, revistas ou fanzines de música? Qual a tua publicação favorita?

Hoje em dia a literatura anda escassa, no fundo a internet fornece-nos a informação de que vai acontecer, esta a acontecer e aconteceu quase em tempo real. Publicação favorita continua a ser a Metal Hammer.


O que lês neste momento e o que aconselhas?

Neste momento não leio nada de relevante, apenas duas revistas rock hard (Abril e Junho).


Tenta definir o que te vai na alma por escrito sobre esta nossa paixão? (últimas palavras, tema livre fala do que quiseres)

É de louvar a inciativa de criar um espaço como este. Sem dúvida um espaço a não perder de vista porque vai ser interessante vêr que afinal há mais pessoas que amam a música de uma forma verdadeiramente incansável e apaixonada, independentemente do estilo musical, da idade ou do formato fisico, apesar que o vinil será sempre eterno. 



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