segunda-feira, junho 09, 2014

Lembram-se dos Inhuman? E do Pedro Garcia?



Lembram-se dos Inhuman? Banda algarvia que na segunda metade da década de 90 editou dois discos que marcaram o metal português - «Strange Desire» e «Foreshadow» - e que, durante algum tempo, alimentaram a ideia de que teríamos aqui a próxima banda a seguir o trilho de internacionalização e de sucesso dos Moonspell? Pois bem, o Pedro Garcia foi o vocalista dessa banda e com ela gravou os dois álbuns atrás citados. Foi, por isso, com grande prazer – até porque sou um admirador confesso de Inhuman e da obra que deixaram – que cheguei à fala com o Pedro, não tanto com o objectivo de dissecar a carreira de Inhuman, mas mais para conhecer um outro lado do Pedro: o de coleccionador de discos e, acima de tudo, de apaixonado por música. Obviamente que acabei por não resistir à tentação e quis saber um pouco mais sobre a sua experiência com Inhuman, mas quanto a isso teremos mais novidades dentro de dias. Para já, vamos conhecer o fã e coleccionador Pedro Garcia. 


Contando 41 anos de idade, são cerca de 25 anos aqueles que já contabiliza como coleccionador de discos e apaixonado essencialmente pelo Metal, “preferencialmente Heavy, Thrash, Death e Black, mas não sou quadrado, ouço e gosto de outros tipos de música, praticamente tudo, menos NU-metal”

Quanto ao seu primeiro disco, “julgo que foi Iron Maiden “Iron Maiden” ou o “Live After Death”, ambos em vinil e editados pela Emi - Valentim de Carvalho, não tenho a certeza qual dos dois foi primeiro. Tive muitos discos que me ofereceram antes (que não eram de metal), mas foi um destes dois que comprei por iniciativa própria”. Já a mais recente aquisição terá sido a estreia auto intitulada dos suecos Vampire, isto porque, confessa, “adoro esta banda, umas das grandes revelações dos últimos tempos”

O arrependimento é parte inevitável de quem colecciona discos e o Pedro não constitui excepção em experimentar esse sentimento amargo. “ Há um que me causa alguma mágoa, o vinil “Obsessed By Cruelty” dos Sodom, julgo que o comprei em 1989 e vendi-o cerca de 1 ou 2 anos depois a um amigo, porque na altura não estava muito virado para esse som mais primitivo, preferia os Sodom do “Agent Orange”. Hoje em dia sinto mesmo a falta dele e parece que é difícil encontrá-lo em bom estado e a bom preço”

Tudo tem um começo, sendo que a relação do Pedro com a música terá começado “bastante cedo, a única memória que tenho é ter 3 anos e cantar uma música sobre um canguru numa festa com muitas pessoas”. Quanto a influências e (dês)encaminhadores para estas andanças, “não me lembro de qualquer influência até aos 9, 10 anos, embora tivesse sempre o gosto pela música. A partir daí lembro-me de ficar fascinado ao ouvir Iron Maiden e ver aquelas capas fantásticas dos discos em vinil na casa de um colega que tinha irmãos mais velhos”. O vício pegou e “quando comprei o primeiro disco, com 14 ou 15 anos, já estava incluído num grupo que ouvia metal. Como não tínhamos rendimentos e os discos eram caros, quando um comprava faziam-se cópias em cassette para todos. Desta forma, todos contribuíam para a causa e todos eram tinham acesso ao que se ia comprando. A título de exemplo, começou-se a comprar Iron Maiden, WASP, Helloween e Manowar. Depois Metallica, Megadeth, Slayer, Anthrax e Testament, evoluindo depois para Celtic Frost, Sodom, Venom, Bathory, Napalm Death e Morbid Angel. Foram sem dúvida bons tempos”


Os anos passam mas a paixão continua. Quem o diz é o Pedro. “O entusiasmo é o mesmo. Os rituais não. A música que gostava era pouco acessível na altura e explico porquê. Nos anos 80 havia 2 ou 3 lojas de discos em Portimão, onde eu morava (Silves), não havia nenhuma. Nessas 2 ou 3 lojas havia alguns discos de metal, mas nada que se pudesse comparar com lojas em Lisboa ou no Porto. Obviamente não existiam lojas online, nem nada semelhante e havia poucos felizardos que tinham família em Lisboa ou no estrangeiro para lhes trazerem grandes preciosidades. A melhor coisa que havia era a Bimotor que tinha muitos discos de metal, ainda assim numa escala bastante mais reduzida do que a loja de Lisboa. Hoje em dia é tudo mais fácil, acessível e imediato, o que torna o processo de aquisição de um disco menos mágico”

Paixão muitas vezes incompreendida mas, gosto de acreditar, algo exclusiva, Pedro assume que “tirando poucos amigos com o mesmo vício, que entendem e partilham a mesma paixão, para os restantes é um pouco estranho e sinto que me vêem como um homem que não cresceu, que supostamente devia ter mais juízo. Parece que isto dos discos é coisa de adolescente, um homem de 40 anos como eu é visto de outra forma se pescar, caçar, jogar futebol ou andar de bicicleta. São hobbies mais normais”. Ainda assim, o ritual de comprar e de dissecar um disco continua, embora a magia, segundo o Pedro, já não seja a mesma. “O ideal é chegar a casa e ouvi-lo, mas com dois filhos nem sempre é possível, por isso tento apenas isolar-me, o que nem sempre é fácil, abri-lo e vê-lo. Depois aguardar pelo momento mais propício para ouvi-lo. Actualmente a surpresa também já não existe, porque normalmente consegue-se ter acesso prévio aos ficheiros em mp3 e quando se compra já se sabe o que se vai ter, aquela magia do que estava para vir, já se foi”

Mas os cuidados com os discos, esses, são para manter, embora não de uma forma obsessiva. “Julgo que tenho apenas cuidados normais, com CDs (praticamente só os uso no carro), agarrá-los sem tocar na superfície de leitura, limpá-los em caso extremo de sujidade com água e/ou álcool e manejá-los com cuidado a fim de preservar as caixas/capas. Com o vinil, escovar antes de ouvir e limpá-los com líquido de limpeza, ou álcool misturado com água em caso de sujidade, mantê-los em capas plásticas e manejar sempre com cuidado”. Já em termos de organização da colecção, “está pouco organizada porque está distribuída por vários locais, mas em cada um deles procuro ter por ordem alfabética, ou por vezes faço conjuntos dos que compro mas ainda não tive tempo de ouvir” 

De entre os cerca de 1000 discos que contabiliza no seu espólio pessoal, considerando todos os formatos, o Pedro admite que “tenho alguns vinis que para mim são especiais, todos os dos Cathedral, os primeiros de Entombed, alguns de Morbid Angel, Celtic Frost e os de Bathory”. E há sempre aquelas bandas/artistas que nos são especiais e das quais procuramos ter o máximo do que vai saindo, sendo que no caso do Pedro são os Iron Maiden, Cathedral, Inquisition, Entombed, Morbid Angel, entre outras. 


Confessa que já não compra tanto como antes, ainda assim, por mês entram em sua casa “1 ou 2 discos, mas com a crise os números tendem a diminuir”, normalmente provenientes do ebay, do discogs ou das próprias editoras. Em termos de aquisições marcantes, “foi há muitos anos atrás quando troquei o “Harmony Corruption” dos Napalm Death pelo “Hammerheart” dos Bathory, ambos em vinil”

Quanto aos discos que, independentemente do género, o Pedro nos aconselha a ouvir antes de morrermos, “é difícil e varia consoante o momento, mas deve ser qualquer coisa deste género, Pink Floyd “The Wall”, Radiohead “Ok Computer”, Iron Maiden “Powerslave”, Entombed “Clandestine”, Bathory “Hammerheart”, Morbid Angel “Altars Of Madness”, Testament “The Legacy”, Paradise Lost “Gothic”, Death “Spiritual Healing”, Celtic Frost “Morbid Tales”, mas ficam muitos de fora e acho que poderia até fazer outro top de álbuns ao vivo”. Mas, se numa situação extrema fosse obrigado a escolher um e apenas um disco da sua colecção para levar consigo, o Pedro não tem muitas dúvidas: “talvez o vinil de Bathory “Hammerheart”. Gosto do disco, da capa e já passei muitos momentos da minha vida a ouvi-lo”.

Quanto a esta paixão que nos une, segundo o Pedro “o coleccionismo de música é um gosto não só pela música, mas também pela obra na sua componente física, que inclui capas, fotografias, letras, notas. A mim, tudo isso me fascina e valorizo bastante o facto de hoje conseguir ir tendo algumas coisas que pareciam tão distantes na adolescência, desejos que foram atravessando os anos e que me são ainda tão actuais”. Nem mais !

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