quarta-feira, julho 16, 2014

Forever Cursed e Cvlt Nation...o outro lado de Artur Carvalho

Julgo que não estarei a dizer nenhum disparate ao considerar que nós, que gostamos, respiramos e vivemos a música, em dada altura das nossas vidas pensámos em deixar de desempenhar apenas o papel de ouvinte passivo e ambicionámos fazer algo mais por aquilo que gostamos e em que acreditamos, quer seja aprendendo a tocar um instrumento, integrando uma banda, distribuindo discos, organizando concertos, criando um blog, uma fanzine ou escrevendo para uma revista ou, simplesmente, ajudar a banda dos nossos amigos a crescer. Muitos colocaram isso em prática, outros tantos mantiveram a sua condição de ouvinte/coleccionador (o que, só por si, já constitui um enormíssimo mérito e uma condição de fulcral importância). O Artur Carvalho pertence ao grupo daqueles ávidos apaixonados por música que procuraram criar algo onde pudessem canalizar toda essa paixão e, de alguma forma, ajudar a divulgar aquilo em que acreditam, musicalmente falando. Nasceu assim o blog Forever Cursed, um espaço da sua inteira responsabilidade que se foi assumindo como um veículo perfeito no acesso a muita e boa música extrema, ao ponto de despertar interesse junto dos responsáveis da Cvlt Nation , projecto de referência global no qual o Artur tem o orgulho de colaborar. Depois de conhecermos o seu lado de fã e coleccionador, foi sobre este seu outro lado que falei com o Artur. Fica o resultado. 



De há uns anos a esta parte, és autor do blog Forever Cursed, um espaço que já se tornou uma referência no que à música extrema diz respeito. Conta-nos como tudo surgiu?

O blog surgiu quase como forma de “escape” desta paixão que tenho pela música. Já há muito tempo que seguia blogs de música e sempre ambicionei ter o meu. O blog acima de tudo é um veículo com o qual procuro partilhar, dar a conhecer novas bandas, álbuns que merecem mais atenção e merecem acima de tudo serem ouvidos e, quem sabe, até mesmo comprado. Isso é algo que procuro quase sempre fazer. Deixar o link da banda ou editora onde os meus leitores possam adquirir o que ouviram. Os que não compram, ou porque não podem ou por outros motivos, que ao menos oiçam. Este é o mote principal do blog. Fazer com que a música que ali coloco chegue a todos os cantos do Mundo. Como Bernardo Sasseti uma vez afirmou: “À vontade, copiem os meus discos. Pirateiem a minha música à vontade, mas oiçam-na. Eu prefiro que o façam, mas que oiçam, que tentem compreender, gostar, partilhar.” Por um lado é engraçado saber que, por exemplo, uma ou outra banda lançaram finalmente a sua Demo, EP, álbum porque lhes dei exposição no meu blog. Caso disso foi os australianos Monomakh que lançaram a sua Demo em cassete pela Rising Beast Records. Quando o dono da label, o James que toca em Harassor e tem mais uma mão cheia de bons projectos, descobriu a banda através do meu blog. Nada me faz mais feliz em saber que de alguma forma, tive alguma percentagem de “culpa” para que isso se realizasse.

Esperavas obter as reacções que obtiveste com este projecto, sendo inclusive aclamado e referenciado pelos próprios elementos das bandas que divulgas?

Não. Nunca pensei causar este impacto. Quase como um vírus, a coisa começou rapidamente a espalhar-se. Muito devido aos estilos que ali colocava, não me dedico a um estilo específico. Vou desde coisas mais atmosféricas, instrumentais dentro do drone, passando por death metal, hardcore com algumas influências crust até aos vários subgéneros dentro do black metal. Esporadicamente recebo um email ou outro de pessoas que descobriram o blog ou que já o seguem há bastante tempo e que através dele descobriram novas bandas que de alguma forma os tocou. Além de ter recebido emails inclusive de alguns membros de bandas que ali postei, a agradecer as palavras que ali lhes dediquei, o que é sempre motivante e dá força para continuar. 

A divulgação de bandas neste espaço segue algum critério específico, ou baseia-se apenas na tua vontade e na tua decisão em divulgar determinada banda ou disco, não cedendo a pressões de editoras, promotoras ou das próprias bandas?

Tudo o que ali coloco baseia-se no meu gosto pessoal. Tão simples e honesto quanto isso. Para fazer uma má review, prefiro nem a fazer.

Sentes a responsabilidade e a influência que as tuas palavras poderão ter na decisão de um leitor comprar ou não um disco? Sentes que tens o poder de influenciar as escolhas? Como lidas com isso?

Sim e não. Sim, porque o que ali (d)escrevo pode de alguma forma influenciar o que essa pessoa espera sentir quando for ouvir o disco. E não, porque no fim tiras sempre a tua própria conclusão pessoal sobre o que ouviste, baseado no teu gosto pessoal. Ok, esta pessoa descreve o álbum como épico mas isto para mim é peanuts. Entendes? No fundo eu ali escrevo o que sinto quando oiço o disco. Baseio-me nas minhas emoções. É difícil outra pessoa ter a mesma sensação que eu ao ouvir o álbum “X” ou “Y”.

Já alguma vez lidaste com situações de leitores que se sentiram defraudados por seguirem aquilo que mencionavas numa crítica? 

Que eu saiba, não. Se sim, pelo menos ninguém se chegou à frente. Acho que os meus leitores têm bastante confiança no meu gosto e nas minhas palavras. Caso contrario não seguiam o meu blog.

Existem planos para o Forever Cursed que possas revelar ou podemos apenas (que não é tão pouco quanto isso) que continues com a qualidade a que nos habituaste?

Estive uns tempos afastado do blog mas regressei novamente e vou gradualmente colocando lá novidades à medida que tenho tempo. Tempo esse que divido entre trabalho-família. 


Em relação à tua relação com a Cvlt Nation, como foste lá parar?

Foi simples. Um dia ao abrir o meu email, reparei que tinha lá uma mensagem do Sean (um dos autores do Cvlt Nation) a dizer que já seguia o meu blog há algum tempo e que gostava bastante do que ali (ou)via e se estaria disposto a colaborar com eles. Obviamente que para mim foi uma honra, entrar nos “quadros” de tal empresa. Cvlt Nation é uma das maiores referencias internacionais na web no que toca a música extrema .

Sendo esse um espaço (ou mesmo O espaço) de referência em termos de música e cultura extrema, acredito que seja para ti um motivo de grande orgulho colaborar com ele?

Claro que sim. Vi ali também uma boa oportunidade de divulgar bandas do underground que têm bastante nível e qualidade e que merecem mais atenção sobre elas.

O que é que a tua colaboração com a Cvlt Nation te proporcionou que não conseguiste alcançar com o Forever Cursed?

Obviamente que um site como o Cvlt Nation já tem uma maior reputação e um background mais enraizado do que propriamente o meu blog. Apesar de ter um culto fiel ao Forever Cursed, não chega aos calcanhares do Cvlt Nation. Mas tenho bastante orgulho no que já fiz para eles. Tive a oportunidade de fazer criticas a álbuns de algumas das minhas bandas favoritas como Amenra, Portal, Dragged Into Sunlight, Bereft, The Secret, etc. E ver esse mesmo artigo partilhado por essas bandas no seu Mural do Facebook, dá-me um gozo incrível.

É fácil separar aquilo que deve surgir no Forever Cursed daquilo que deve surgir na Cvlt Nation?

Nesse aspecto eles deram-me total liberdade de colocar e escrever sobre o que eu quisesse. O Sean disse-me cedo que tinha total confiança no meu gosto pessoal.

Consideras que projectos como o Forever Cursed e a Cvlt Nation são, cada vez mais, a realidade em termos de divulgação musical e artística, condenando definitivamente a imprensa escrita a um lento definhar?

Acho que a imprensa escrita nunca irá morrer. Ainda por mais, neste meio da música mais extrema, temos fiéis seguidores da revista “X” ou “Y”. Mas no fundo tudo se resume à forma como tu preferes que essa informação chegue até ti. Digital ou fisicamente, um pouco como a música. Pessoalmente, e desculpem-me dizer isto, mas já há muitos anos que deixei de comprar publicações, digamos, “físicas”. A Internet permite-me explorar e ter acesso mais rápido aos estilos que mais gosto e que nem sempre têm destaque na imprensa.


A Cvlt Nation é hoje um espaço que vai muito além da música, sendo uma referência em várias quadrantes da cultura extrema. Qual a verdadeira dimensão deste espaço? Dá para ter uma noção do quanto têm vindo a crescer?

Muito sinceramente não sou talvez a pessoa certa para te responder a esta questão, visto que sou um mero contribuidor para o website. Mas basicamente, quem segue estes géneros de música mais underground e extrema, conhece o Cvlt Nation. E até é um website que expõe não só música mas assim como outras manifestações artísticas sejam elas por exemplo: fotografia, ilustração, cinema, etc. Embora ultimamente aquilo mais pareça uma espécie de “Jornal do Insólito” por causa do género de artigos que têm vindo a divulgar. Gostava que se voltassem a focar unicamente em expor música nova e de qualidade.

Podemos continuar a contar com os teus textos na Cvlt Nation? 

Bem, por enquanto sim. Mas o tempo infelizmente não dá para tudo e desdobrar-me entre vida particular, trabalho e blog não é fácil. Há que estabelecer prioridades. Vamos ver até onde isto vai dar. Um abraço!

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