segunda-feira, junho 27, 2005

Entrevista Blue Sound Traffic


Os Drawned in Tears fazem parte do passado, Blue Sound Traffic é o presente e «Oxygen» o seu segundo registo. A Opuskulo quis conhecer melhor as opiniões e visões de uma banda que editou uma das melhores Demo CD dos últimos tempos a nível nacional e que será brevemente editada em MCD oficial por uma editora norte-americana. Da Madeira para o Mundo, os Blue Sound Traffic em discurso aberto...
Segundo disco enquanto Blue Sound Traffic, como correram as coisas com o anterior «As we sit and watch…» ? Não foi o suficiente para vos garantir um contracto discográfico ou esta segunda edição de autor surge como uma opção da banda?
Foi uma opção da banda tendo em conta diversos factores. “As we sit and watch....” não resultou exactamente conforme esperávamos, mesmo assim serviu para recuperar um pouco do tempo perdido na transição Drawned in tears / blue sound traffic. Houve algum interesse nesse trabalho, como por exemplo a editora britânica rage of achiles que chegou a contactar a banda, mas depois de alguns contactos, misteriosamente deixou de nos responder, algo que sinceramente não compreendo, penso que revela até uma certa falta de personalidade tendo em conta que foram eles os primeiros a mostrar interesse. De qualquer modo tínhamos temas novos e não queríamos ficar parados, aí surgiu “oxygen” que penso ser mais um passo em frente na sonoridade de BST.
Comparando «As We sit and Watch» com este novo «Oxygen» saltam desde logo à vista uma notória evolução a nível musical e estético. Concordas? Estão satisfeitos com o resultado final de «Oxygen»? Como têm sido as reacções?
As reacções até agora foram excelentes, ainda não li uma crítica negativa em relação a este trabalho, penso que este foi um passo importante na nossa carreira. Os temas estão muito bem estruturados, mas penso que o que mais faz a diferença é a própria produção e o à vontade com que conseguimos executar os temas. Estamos no bom caminho, cada vez estamos a escrever melhor música e com melhores interpretações dos vários elementos da banda, neste momento com o Dieter na banda isso ainda é mais notório. Penso que estamos a escrever temas bastante orelhudos sem perder uma certa profundidade que torna o som BST interessante.
Longe do Doom/Death dos tempos Drawned in Tears, a vossa sonoridade aparece cada vez mais orgânica, simples e moderna. Esta foi uma evolução natural que acompanhou a vossa própria evolução enquanto músicos e indivíduos ou foi uma mudança pensada e planeada? Quais as maiores influências que de momento se reflectem na vossa sonoridade?
Essa evolução é natural. O nosso crescimento como pessoas tem influência sobre o nosso crescimento enquanto músicos e vice-versa. Quanto melhor conseguimos tocar menos necessidade sentimos de compor temas extremamente técnicos como acontece com muitas bandas em inicio de carreira, a sensibilidade torna-se mais importante, penso que é essa a grande evolução dos BST. As influências? Bem, essa é sempre difícil. Posso te dizer que o pessoal gosta de cenas bastante variadas. Bandas como Paradise Lost e outras dessa época tiveram sem duvida algum peso no som da banda, com o passar dos anos fomos adquirindo um leque mais vasto de gostos musicais e isso afectou cada um de uma maneira muito própria, penso que isso faz a sonoridade BST. Anathema, katatonia, at the drive in, anekdoten, in flames, dredg, vast, pain of salvation, opeth são alguns nomes que poderias ouvir numa conversa entre os membros da banda, mas existem muitos mais, hehe, realmente essa das influências e difícil de responder, provavelmente nem soamos a nenhuma das bandas que ouvimos, isso é positivo obviamente. Se calhar soamos a alguma banda da qual nem gostamos, hehe, isso e que seria irónico.
Em «Oxygen» notei a quase ausência de um registo vocal gutural em prol de um registo mais limpo e melódico. Procuram desta forma tornar o vosso som mais acessível a ouvidos menos habituados ao som mais pesado ? Pessoalmente considero que a dicotomia gutural/limpo se enquadra na perfeição no vosso som...
Não penso que seja para tornar o som mais acessível a ninguém, é apenas uma opção. Um guitarrista procura diferentes sonoridades para dar uma maior dinâmica ao que toca, o mesmo acontece com um baterista ou um baixista e por ai fora, todos procuramos diferentes sons e até diferentes técnicas, pequenos truques para desenvolvermos o nosso intrumento, na minha opinião o mesmo acontece com os vocalistas, a única diferença é que o instrumento neste caso está incorporado na pessoa. A voz limpa em BST transmite uma emoção bastante mais forte, por vezes uma voz limpa pode até ser bastante mais intensa em vários aspectos, não penso que banda nenhuma se torne mais acessível pelo simples facto do vocalista mudar a sua prestação. Se os cannibal corpse utilizassem a voz limpa penso que não ficariam mais acessíveis, penso que pelo contrário, as pessoas poderiam ficar mais chocadas porque os textos seriam mais perceptíveis, e até seria interessante, deixo aqui o desafio aos cannibal corpse, hehe.
Os Blue Sound Traffic são das poucas bandas madeirenses resistentes de uma geração que parecia prometer muito mas que desapareceu aos poucos. É preciso uma grande dose de dedicação e espiríto de sacrifício para manter uma banda como a vossa activa há tantos anos ou tem sido uma questão de sorte e de saber gerir a carreira?
Temos tido também alguns azares, penso que esse equilíbrio entre azar e sorte nos fez aprender imenso, embora sinceramente me lembre de mais momentos de azar do que de sorte, mas de certeza que existiram. A amizade entre os vários elementos tem sido um dos pontos a nosso favor. Crescemos praticamente todos juntos, neste momento apenas o Dieter é “novidade”, coitado não sabe onde se está metendo, hehe. Mas tudo está a correr bem, todos os outros já conheço há muitos anos. Temos também consciência do nosso valor, seria uma pena desistir, até porque na minha opinião estamos cada vez melhor.
Penso que já tiveram oportunidade de mostrar o vosso som a órgãos de comunicação de grande escala, tais como a Antena 3 e a RTP Madeira, estou certo? Como correram essas experiências? Consideram ser hoje mais fácil chegar a um maior leque de público com este tipo de som do que na altura em que começaram a tocar?
Sim, os media em geral estão mais abertos a este tipo de som, mas é tudo muito controlado pelos “opinion makers”. A vantagem é que realmente uma banda consegue fazer coisas por sua conta e risco que há alguns anos atrás eram quase impensáveis. Umas coisas melhoraram outras nem tanto. Esses concertos no auditório da antena 3 foram bons concertos com uma boa cobertura, mas infelizmente isso só acontece esporadicamente, uma banda precisa de muito mais para por as coisas realmente a mexer. Como experiência foi espectacular, tivemos oportunidade de estrear novos temas, o próprio palco levou o tratamento BST, foi muito bom.
Voltaram a deslocar-se ao continente para gravar este disco, nomeadamente aos Rec’n’Roll no Porto. Existe na Madeira espaços onde uma banda possa gravar discos de qualidade e ser compreendida e ouvida correctamente ? Alguma vez ponderaram abandonar definitivamente a Madeira pensando no crescimento da banda ?
Na Madeira não, os poucos estúdios que existem são extremamente dispendiosos e dificilmente se consegue trabalhar em condições, penso que a Madeira não é um bom sitio para uma banda de rock. Quanto a deixar a Ilha, eu pessoalmente penso cada vez mais nisso, sei que é uma decisão complicada, mas é algo que inevitavelmente nos passa pela cabeça, logo se verá...
Ao nível da mensagem «Oxygen» parece remeter-nos para uma sensação de inspirar/expirar durante a qual percorremos vários cenários, havendo uma certa continuidade ao longo dos temas. Estarei certo ? O que pretendem transmitir liricamente?
Penso que a ideia da continuidade é mais a nível musical do que propriamente lírico, exceptuando obviamente o primeiro e ultimo tema. Os temas abordam quase sempre emoções e episódios pelos quais todos nós passamos uma vez ou outra, neste caso “Oxygen” poderá representar esse respirar, poderá representar a própria vida. O tema “bulletproof” por exemplo representa para mim uma dualidade entre a força e a debilidade emocional, alguém que está revoltado mas que ao mesmo tempo não consegue deitar essa revolta cá para fora e que se esconde, esta é uma interpretação muito pessoal, nem sei se faz sentido para as outras pessoas. Penso que existe uma certa continuidade mas muito pelo caminho é simplesmente ao acaso, tal como a própria vida.
Quanto a concertos, poderemos ver os BST pelo continente a exemplo da pequena digressão que fizeram com o disco anterior ? Existem na Madeira espaços adequados para uma banda tocar ao vivo ?
Na Madeira não, apenas convites esporádicos que são sempre boas surpresas, hehe. Para fora temos uma confirmação, mas o evento apenas decorre em 2005 por isso entretanto temos muito espaço para preencher, pode ser que em Setembro apareça também qualquer coisa, estou esperançado nesse sentido.
Aproveitando a conversa com um madeirense, e fugindo à música, qual a tua opinião sobre o carismático Alberto João Jardim?
Realmente fez algumas coisas boas pela região, mas ninguém pode estar tanto tempo a governar seja lá o que for. O pior é que também é verdade que as opções não são muito credíveis, isto está cheio de idiotas e o Alberto João Jardim até nem é o pior, apenas está fora de prazo. Eu não percebo e nem me interesso muito por politica, mas na minha opinião uma nova revolução já cá faz falta.
As autoridades madeirenses têm uma política activa de apoio às bandas e outras formas de expressão artística?
Nós não temos razão de queixa nesse sentido, porque já nos apoiaram algumas vezes, mas penso que a nível cultural esta é uma região muito pobre. Acho que a definição de Arte é deturpada todos os dias. Quando pedimos apoios eles sempre vão aparecendo, mas a politica da Região em relação a arte em geral favorece pequenos grupos de pessoas que por uma razão qualquer se julgam grandes conhecedores e grandes artistas. Eu não serei provavelmente a pessoa mais indicada para falar nisso, serei talvez tendencioso demais porque realmente a cada dia que passa os meus sentimentos em relação a este sítio vão se tornando piores.
O que podemos esperar dos BST a curto/médio prazo?
Podem contar com algumas aparições ao vivo, se tiverem oportunidade de nos ver aproveitem. Temos o nosso website agora ao cuidado da diabolical art prod. Por isso podem ir passando por lá para ver as novidades. estamos também trabalhando com a meta vírus a nível de promoção, penso que a curto/médio prazo isso também dará os seus frutos. Temos o licenciamento de “Oxygen” pela Americana statue records, isso poderá nos abrir algumas portas do outro lado do Atlântico, enfim, vamos continuar a fazer o nosso melhor, temos pessoas competentes a nos ajudar, isso já é bastante positivo. Os temas que estamos gravando no nosso pequeno “estúdio” caseiro servirão também para dar a conhecer tudo o que de novo temos vindo a fazer, estamos a apostar muito na promoção da banda em várias frentes.
Últimas palavras...
Obrigado pela entrevista e pelo apoio em geral. Gostava de deixar aqui um abraço ás pessoas que nos ajudaram durante este tempo todo e aos que agora surgem também, fazem todos parte de BST de uma maneira ou de outra.

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