terça-feira, maio 16, 2006

em entrevista...HORDES OF YORE

Tendo representado uma das boas surpresas do ano 2005, «Of Splendour and Ruin», o disco de estreia dos Hordes of Yore, continua a ecoar no panorama de peso nacional e a afirmar-se como uma obra verdadeiramente a descobrir. O Opuskulo falou com o guitarrista Helder no sentido de conhecer melhor esta interessante banda e indubitável certeza do Metal nacional.
Para quem não vos conhece…apresenta-nos os Hordes of Yore?

Somos uma banda criada em 2002 por minha iniciativa e do baixista Tiago Martins. Resolvemos romper com o estilo mais convencional que tocávamos numa outra banda para podermos criar realmente um estilo que envolvesse o gosto que partilhávamos pelo romance histórico, factor que está na base da nossa essência. Havia a pretensão de criar musicalmente algo que se interligasse com essa mistura de realidade e imaginário. Após o desenvolvimento ponderado de um contexto musical e lírico, resolvemos gravar o nosso primeiro álbum em 2004.
E como têm sido as reacções a «Of Splendour and Ruin» tanto em Portugal como lá fora?

Em Portugal têm sido bastante boas, tendo em conta que se trata de um primeiro álbum e que nenhum de nós era propriamente uma figura mediática dentro do meio, conseguimos divulgar o nome da banda com alguma facilidade. As pessoas gostam, sobretudo, do facto de reunirmos ideias bastante diversificadas em relação à música e da originalidade das letras. Lá fora, não é possível ter uma percepção muito exacta do número de pessoas que possam gostar do “Of Splendour and Ruin”, uma vez que não temos um contacto muito permanente com as distribuidoras. No entanto, alguns amigos nossos têm manifestado directamente o seu contentamento, um pouco na Europa, EUA e Brasil.
Para a gravação deste disco recorreram à colaboração de músicos de sessão, como por exemplo o Rolando Barros na bateria. Pretendem continuar a trabalhar desta forma ou irão integrar elementos na banda a título oficial ?

O Rolando apenas participou na gravação do álbum, após esse período arranjámos logo um baterista permanente com o qual realizámos todos os concertos – o Jorge. Não me parece que alguma banda tenha realmente gosto em colmatar o vazio com músicos de sessão, por muito competentes que sejam. No nosso caso deveu-se ao facto de existir um prazo estipulado para o começo da gravação e precisarmos de entregar as linhas de bateria, que já estavam criadas, nas mãos de quem não houvessem dúvidas de que as poderia executar. Outra colaboração foi a do nosso amigo Tiago (Rato) Martins nos teclados, um excelente músico que infelizmente não pôde integrar a banda num período posterior à gravação. Continuamos até hoje sem ter encontrado a pessoa certa para o seu lugar. Tivemos que adaptar algumas partes das músicas, ao vivo, de modo a que possam compensar e transmitir uma atmosfera diferente daquela que é encontrada no álbum. Não acho que isso seja necessariamente negativo, mas espero ainda encontrar um teclista, um dia destes.

Quanto à masterização do Alex Krull, como se deu essa colaboração? Conseguiram auferir qualquer opinião dele sobre os Hordes of Yore?

Bem, precisávamos mesmo de masterizar o álbum, porque não deixar o trabalho nas mãos de quem realmente admiramos? Basicamente foi-lhe enviado um mail ao qual ele respondeu afirmativamente. Penso que ele tenha gostado do álbum, embora o tivesse manifestado de um modo sublinear, tendo-se mostrado entusiasmado e fazendo várias sugestões acerca de coisas que nem eram à priori da sua competência.

Em termos líricos julgo que abordam temas relacionados com a Roma Antiga, estarei correcto? Porquê esta decisão? Fará mais sentido para vós abordar factos históricos de um país que não o vosso?

Os factos históricos que abordamos são exactamente do nosso país, bem como de todos aqueles que ofereceram resistência ao domínio romano. Acho que algumas pessoas são capazes de ficar com a ideia errada, se olharem somente para o layout. Devo dizer que não se trata propriamente de uma homenagem ao império, mas antes uma crítica. O maior domínio que o Mundo conheceu foi responsável pelo modo fútil com que levamos o nosso quotidiano. Dizimaram muitas civilizações e seus respectivos valores em nome do “esplendor” de Roma. Na nossa era, estão esquecidas palavras simples como honra, liberdade e integridade em troco da cobardia, prepotência e traição que governam o nosso mundo ocidental, herança directa do comportamento dos nossos colonizadores.

Pegando em duas palavras-chave no título do vosso disco indica-me ao que associas a esplendor, por um lado, e ruína por outro, no que diz respeito em primeiro lugar a Portugal e em segundo lugar ao Metal nacional?

Em relação a Portugal, associo esplendor a todo o seu património natural, cultural e à emotividade intrínseca que nos caracteriza enquanto portugueses. Esta mesma emotividade acaba por ser a nossa ruína como reverso da medalha. Algumas pessoas podem não saber compensar muito bem este factor. Meter o coração à frente da razão, por vezes pode ser perigoso, atravessamos um período bastante sério e é altura de deixar o coração um pouco de lado e ser o mais racional possível. Quanto mais não seja porque os nossos políticos estão sempre à espera de nos apanharem distraídos, estes não regem segundo o coração e tenho dúvidas de que o façam segundo a razão, mas apenas pelo oportunismo e pelo puro estado de demência. No que concerne ao metal nacional, terei de relacionar analogamente a palavra esplendor aos esforços de algumas bandas no sentido do progresso técnico, nos últimos anos. Por outro lado, o provincianismo de nos acharmos intelectualmente inferiores ao resto do Mundo e, consequentemente, o mergulho no preconceito de fazer algo de inovador, parecem ser a ruína da cena nacional, na generalidade dos casos.
O que podemos esperar dos Hordes of Yore a curto/médio prazo? Há já algo a ser preparado quanto a novas edições?

Ainda continuamos a divulgar este trabalho de apresentação da banda. Embora sejamos um meio pequeno, acho que muita gente ainda não nos conhece, pelo que devemos insistir em mais actuações ao vivo em alguns pontos do país que ainda nos falta visitar. Só em 2007 se poderá esperar um novo álbum que, aliás, já começa a ganhar contornos. No entanto, é apenas uma estimativa, pois algumas ideias são demasiadamente megalómanas para conseguir pôr em prática num curto espaço de tempo, uma vez que dependerão também de muitas outras pessoas. Refiro-me por exemplo à eventual inclusão de um coro ou quaisquer outros arranjos que possam envolver as respectivas diplomacias. Mas, não querendo adiantar ainda demasiado sobre o assunto, dediquemo-nos presentemente ao “Of Splendour and Ruin”.

Últimas linhas…

Os meus agradecimentos à Opuskulo pela entrevista e pela review ao nosso cd. Gosto sempre de referir as pessoas que vão propositadamente aos nossos concertos, principalmente aquelas que se têm deslocado entre várias actuações da banda. É realmente por elas que sentimos sempre motivação para continuar o nosso percurso; não me esqueço disso. Assim, os Hordes of Yore somos todos nós!

Sem comentários: