segunda-feira, junho 26, 2006

em entrevista...HUGO FLORES (SONIC PULSAR / PROJECT CREATION)

O Prog Rock não é, definitivamente, dos estilos musicais que gozem de mais popularidade no nosso país, isto embora tenhamos nomes extremamente talentosos dentro desse espectro. Sonic Pulsar e Project Creation são dois desses nomes e acabam por ter uma maior notoriedade no estrangeiro do que no seu próprio país. Hugo Flores, mente criativa de ambos os projectos, falou com o Opuskulo e deu-nos a conhecer excelentes propostas musicais que permanecem injustamente ignoradas pela maioria do público nacional.

Falemos em primeiro lugar de Sonic Pulsar. Como têm sido as reacções a este último disco?


Do que me tenho apercebido o pessoal está a gostar e consideram um grande avanço relativamente ao primeiro álbum. Algumas faixas são emblemáticas, e algumas criticas referem que estas faixas ficarão como sendo uma marca na nossa música, falo da “Schizophrenic Playgroung” e “I heard of a place called Earth” por exemplo. Os fãs que gostaram do primeiro ficaram satisfeitos com as ideias e musicalidade do “Out of Place”. Em termos de críticas nos media, tem sido excelente e o cd tem passado em várias rádios recebendo apoios um pouco por todo o lado. Claro que este género de música não tem, para já, a divulgação que um artista ou banda pop/rock conhecida beneficiaria, mas tem sido uma boa aceitação e sobretudo um óptimo reconhecimento do trabalho por parte da crítica especializada.


E quando a Project Creation, como estão a correr as coisas com o disco?

Project Creation está a beneficiar de uma divulgação superior a Sonic Pulsar, pela envergadura da editora, mas também pela música que, apesar de sinfónica, é mais apelativa e consegue agarrar públicos mais diversificados. No entanto, já vi alguns fãs de Sonic Pulsar preferirem o género mais ”agressivo” de Sonic comparativamente ao mais ambiental/sinfónico de Project Creation. Mas considero que “Floating World” é um álbum algo arriscado, pois coloca elementos do jazz/fusão pelo meio, coisa que não é fácil de realizar, tornando o som diferente do habitual. Penso que, no caso deste álbum, o efeito foi bem conseguido. Também é arriscado, porque tem quase 73 minutos de música e a história é contada ao longo do cd. Penso que o facto de um cd ter a totalidade do tempo, pode ser prejudicial, mas no caso deste “Floating World” a variedade e as surpresas que ocorrem destroem uma possível monotonia, acho eu. Li recentemente um comentário de um fã - que também escreve alguns textos/criticas - referindo que este álbum renova a esperança dos mais inconformados com o progressivo, e que traz frescura ao género quando todos pensavam que já não seria possível inovar. Enfim, é uma opinião, e só posso dizer que tento sempre inovar com o que faço, mas conheço projectos muito originais de progressivo e não só. Uma nota curiosa é que pessoas que não estão dentro do prog gostam do álbum e compram-no. Isso é excelente e não gosto de catalogar a música por isso mesmo. Em termos de rádios a coisa está a ir bem, mas falta sempre chegar às ditas “grandes”, pelo menos em Portugal! As críticas têm sido óptimas e já recebemos duas notas máximas, uma delas numa revista de renome, a Background Magazine na Holanda.


Não deixa de ser curioso que o teu projecto digamos “secundário”, Project Creation, seja o que, neste momento, está a obter uma maior exposição e sucesso. Como te sentes em relação a isso ?


(risos) É verdade, sabes que já pensei nisso! O segundo projecto vai ultrapassar o primeiro em termos de notoriedade, não há dúvida, mas acontece isso com muitos músicos e não apenas na música mas também noutras artes como o cinema. Quantas vezes um actor ou um realizador não fica conhecido com o seu 5º filme, por exemplo? O bom é que os fãs de Project Creation vão ouvir e ler o nome Sonic Pulsar e vão querer descobrir do que se trata e, por outro lado, quem gosta de Sonic vai querer ouvir este projecto. O que sinto é que Sonic devia estar na Progrock Records (risos) e beneficiar da mesma promoção, apenas isso. Espero que um próximo álbum de Sonic possa ser distribuído e editado pela mesma editora.


Por falar nisso, como surgiu o acordo com a norte-americana Prog Rock Records ? Podemos esperar uma relação duradoura ?

Claro, dou-me muito bem com a editora, que me dá liberdade total para criar. Não impõem nada, apenas aconselham a mistura final e dão conselhos ao nível da qualidade do som. O resto, produção, masterização, é feito por eles. Project Creation tem como objectivo 3 álbuns, os quais vão ser editados pela Progrock. Depois disso, e ainda falta muito tempo, logo veremos o futuro do nome Project Creation. O contacto com a Progrock já se iniciou há algum tempo, quando lhes enviei o “Out of Place” para colocação na rádio Americana Progrock Radio. O Shawn Gordon, Presidente da editora, gostou do “Out fo Place”, mas eu já tinha na altura contrato com a Italiana Mellow Records. Quando lhe enviei o Project Creation, ele ouviu a “demo” durante 1 semana, e deu-me resposta entusiasta e positiva. A partir daí foi melhorar os mixs, ter o produto final, e toda a arte gráfica do álbum.


Tanto em Sonic Pulsar como em Project Creation o conceito lírico gira em torno de ficção científica, espaço, “ufologia”, etc… Suponho que sejas um profundo interessado por essas temáticas…


Adoro mistério e o desconhecido, é isso que nos faz viver acho eu. Para o “Floating World” baseei-me em ideias para uma história de ficção e na minha vontade em explorar o desconhecido, o Universo. Para te dar uma ideia das influências para o Floating World, posso referir o livro Solaris, o filme Dark City, Star Trek I e 2001 Odisseia no espaço. Referes a ufologia, mas tal já sai um pouco fora do tema, pois trata-se de curiosidade pessoal e alguma investigação de um curioso do tema. Sabes que eu tenho uma mente muito aberta, não rejeitando nada à partida, mas procuro as minhas respostas. A educação parte também da nossa própria procura pelas repostas, e não pelo que nos é “doutrinado”. Já agora, em “Out of Place” e “Floating World” há uma crítica muito forte à nossa sociedade, mais ou menos explícita.



Sei que o conceito de Project Creation se relaciona com um filme de ficção científica que já se encontra em fase de produção. O que podes desvendar em relação a isso ?

Não é bem um filme, é mais um videoclip mas muito diferente do que se viu até hoje e com grande produção em cima. Talvez se possa falar numa curta curta-metragem! O clip vai ter como base a faixa 1, “Floating World”, mas não vai mostrar apenas imagens da faixa escolhida para o single, mas de todo o álbum, ou seja, em 6 minutos teremos toda a historia do 1º álbum! O teaser já está disponível no nosso site em sonicpulsar.com ou aqui

http://www.nemesismusica.com/projectcreation.htm


Poderá considerar-se Sonic Pulsar e Project Creation como verdadeiras bandas ou como projectos nos quais reúnes músicos convidados ?

Considero Sonic Pulsar um misto entre banda e projecto, mas Project Creation como um verdadeiro projecto, ou “supergroup” em que reúno músicos convidados. No entanto, quero que esse leque de músicos seja relativamente estável, por uma questão de confiança e de musicalidade. O som apresentado é também diferente de o de uma banda.

Quanto a discos a solo, após «Atlantis» há mais alguma coisa a ser preparada ?

Quero fazer uma “revisit”, como se diz actualmente (!), ao meu primeiro álbum “Atlantis”. Tenho também já algumas gravações para um álbum, que sai fora de todos estes projectos, muito mais direccionado para o metal e de nome “Dimensions”. Será uma viagem por diversas dimensões ou estados de espírito se quiseres. Vai ser mais agressivo e entre o depressivo e eufórico. Vai ser sobretudo guitarra, baixo e ritmo. Será talvez o álbum mais pessoal até hoje e já tenho boa parte das guitarras gravadas, faltando agora as primeiras misturas..Por último, uma novidade, Sonic Pulsar vai participar num tributo a Santana, à semelhança do que aconteceu com os Moody Blues, a ser editado pela Mellow Records (www.mellowrecords.com). Sonic Puslar conta agora com um novo membro na bateria, o norte-americano Davis Raborn que já participou em projectos como o Daymoon de Fred Lessing, que tocou flauta e Baroque recorder no “Floating World”.

Em termos nacionais noto que nunca foi dada a devida atenção ao teu trabalho. Sentes o mesmo ? Achas que nasceste no país errado ? Provavelmente tudo seria muito mais simples em termos de carreira musical se fosses norte-americano ou britânico…

(risos) Sim, não se dá a atenção devida aos melhores trabalhos, ou pelo menos aos mais originais, e isso não acontece apenas em Portugal. Os filmes de culto, séries de culto, têm alguns seguidores, e a pouco e pouco vão ganhando cada vez mais notoriedade. Penso que no campo das artes, e especialmente no cinema e música, tudo o que inova é mal recebido no início pelo grande público, pois há resistência à mudança e ao que é novo. Um filme diferente, original, ficaria pouco tempo no cinema, pois o público demora mais tempo a absorver o que se lhe é apresentado, e depois sai das salas rapidamente. Se ficasse tanto tempo como os ditos mainstream, tenho certeza que ia ganhando público.Se nasci no Pais errado….não sei, gosto do meu País, mas de facto os álbuns têm tido sempre edições lá fora, e isso diz tudo, apesar da Portuguesa Nemesis saber o que é bom, e ter pegado tanto em Sonic como em Project para distribuição oficial em Portugal. Aliás, o catálogo da Progrock está todo na Nemesis para o nosso País.


Como vês o “estado da arte” em termos de Metal e Rock Progressivo em Portugal ?

Pouca coisa, mas boa em termos de rock progressivo. O metal já tem muito mais variedade, com muito underground e várias bandas de nível. É impossível deixar de falar nos meus amigos Forgotten Suns, e também nos Miósotis, uma banda progressiva, com óptimos temas bastante originais. Claro que nem sempre é preciso inovar, também gosto de ouvir música mais comercial, desde que tenha algo de novo para oferecer e não se limite a copiar.

Poderemos alguma vez ver Project Creation ou Sonic Pulsar ao vivo ?

Project Creation é um produto final, uma criação de estúdio, apesar de eu já ter pensado a sério apresentar o álbum ao vivo, o que se revela complicado devido às várias sonoridades, requerendo um tempo e logísticas muito complexas. Para me dedicar a Project ou Sonic ao vivo, não teria certamente tempo para os dois projectos. É uma escolha a fazer mas um verdadeiro dilema para mim, pois queria ter tempo para fazer isso tudo (risos). Mas sabes que eu sou um bocado como o Arjen Lucassen e gosto de estar fechado no meu Mundo, a compor e ir até ao meu limite em termos de composição e de criação. De qualquer maneira não está colocada de parte uma actuação a vivo, logo veremos.

Quanto a projectos a curto/médio prazo…o que podemos esperar ?


Bem, tenho o Project Creation parte II que já está a ser produzido, mas um terceiro álbum dos Sonic Pulsar já está idealizado, bem como uma regravação do meu primeiro álbum “Atlantis” (para mais tarde). Como disse, estou já na fase de composição do segundo álbum de Project Creation. Em relação à historia, vamos observar um pouco a evolução do novo planeta, a comunhão entre as diversas espécies e vamos igualmente revisitar a pirâmide de Queops que vai ter um papel na epopeia a desempenhar por uma das libelinhas mecânicas do 1º álbum. Posso adiantar que duas musicais vão falar sobre uma fantástica cidade, num planeta distante. Mais detalhes para breve. Já estou igualmente a trabalhar com uma designer para todas as imagens do booklet. Tenho também o “Dimensions”, álbum a solo, que está também em gravação.

Últimas palavras…

Quero agradecer-te por esta entrevista, e agradecer a todos fãs de Sonic e de Project Creation. Espero que todos os que comprem o cd desfrutem o mais possível do trabalho realizado, pois teve de facto muito trabalho envolvido nesta criação. Um abraço !

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