Ao falarmos de Industrial em Portugal surge de imediato o nome Bizarra Locomotiva. No entanto, o estilo está longe de se esgotar por aí e nomes como Re:aktor, F.E.V.E.R ou estes Kronos provam isso mesmo. «Symbolon» marca a estreia deste colectivo de Vila Franca de Xira e estabelece-se, dese logo, como uma das revelações do ano a nível nacional. O OPUSKULO quis conhecer melhor este colectivo e partiu para a conversa com os KRONOS...
Apresenta-nos os Kronos….
Os KRONOS são uma banda que se formou no início de 2004 a partir da vontade de dois membros dos já extintos Uber Mannikins (um projecto de rock industrial de Vila Franca de Xira) em encontrarem novos elementos para a construção de um projecto musical que permitisse explorar e ampliar ideias e abordagens musicais inovadoras. O encontro com os outros dois membros (com um percurso musical marcado pelo anonimato das bandas de garagem), permitiu concretizar este objectivo principal, e desde essa altura, todo o esforço e investimento criativo tem sido dirigido no sentido de criar e alargar, a partir das fusões que se entendam relevantes, uma sonoridade que nos agrade e, sobretudo, que não seja refém de estilos ou rótulos estanques.
Que tal a aceitação a «Symbolon», a vossa maquete de estreia ?
Até agora temos a impressão que a maioria das pessoas que ouvem o nosso som ficam positivamente impressionadas. Temos recebido alguns ecos elogiosos no myspace e temos tido boas críticas à nossa maquete em alguns blogs de música. Ao vivo importa dizer que a situação é um pouco paradoxal, dado que até agora a maioria dos nossos concertos tem acontecido no âmbito dos concursos de música (que nunca ganhamos), o que significa que o público (que é heterogéneo e indistinto) e os júris tendem a revelar alguma estranheza e incompreensão relativamente ao nosso som, mas curiosamente recebemos sempre as palavras mais positivas da parte das outras bandas, mesmo quando praticam sonoridades bastante distantes da nossa. Pensamos que reconhecem alguma originalidade no som que praticamos, e apesar da diferença das linguagens, não hesitam em manifestar o seu agrado em relação à nossa música.
Musicalmente apresentam sonoridades que vão desde o electro-Goth, Industrial e mesmo o Metal. Acham que essa mistura estilística poderá gerar alguma confusão no ouvinte e acabar por o afastar da vossa música ?
Essas fusões estilísticas são inevitáveis, e indispensáveis, no nosso processo criativo. Temos a clara consciência que não é fácil para qualquer ouvinte apreciar e entender a nossa música, mas isso não constitui nenhum drama, porque se fosse para ganhar dinheiro teríamos feito uma banda de bailes. Claro que isto não significa que a nossa música seja dirigida para um reduto de eruditos ou de melómanos fervorosos, mas para nós é relativamente óbvio que é necessário algum ecletismo e alguma maturidade para compreender o nosso som. É um compósito de muitas influências e de muitas linguagens. Quem ouve música por genuína fruição, sem estar preocupado em ser fiel a um determinado estilo, acabará por encontrar pontos de contacto que lhe agradem. Por essa razão, e uma vez que não fazemos música para as massas, nem música por encomenda, só se deverá aproximar da nossa música quem a entender e apreciar. Quando isso acontece é uma honra e uma satisfação.
Especificaram algum público-alvo ou esperam abranger um largo espectro de ouvintes e apreciadores ?
Por uma questão de coerência aos nossos princípios, somos contra a ideia de dirigir a nossa música para um público-alvo específico, pois isso seria contraditório com o nosso entendimento da música e com o nosso compromisso criativo. É claro que pelo facto de termos uma sonoridade pesada, intensa e soturna, o nosso público potencial acaba por se encontrar nas fronteiras entre o Gótico, o Industrial, o Metal, o Electro e o Alternativo. Mas dentro destes géneros há muitas pessoas com um espírito aberto e cosmopolita em relação à música, por isso pensamos que a nossa potencial mais-valia se encontra nessa capacidade de agradar aos públicos que se encontram nestas fronteiras estilísticas. O espectro poderá não ser o mais alargado de todos, mas como já foi dito o mais importante é encontrarmos um público que entenda e aprecie a nossa linguagem.
Suponho que tal heterogeneidade reflecte os gostos musicais e influências distintas dos vários elementos dos Kronos. É fácil conciliar tudo isso ?
Efectivamente, essa heterogeneidade é o resultado directo dos vários gostos e dos distintos percursos musicais dos elementos de KRONOS. No entanto, a síntese dessas múltiplas referências acaba por ser um processo bastante natural e nada complexo. É curioso, mas praticamente nunca falamos de música nem trazemos para a sala de ensaios discos das nossas bandas favoritas. Há determinadas bandas que uns gostam, outros não e ás vezes acontece não conhecermos certas referências que algum de nós apresenta. Quando compomos apenas estamos concentrados na sonoridade que queremos explorar para determinada música, sem qualquer complexo quanto ao facto de ela nos poder remeter para determinado território que não nos seja o mais familiar de todos. Todos nós temos as nossas influências bem incorporadas e quando dialogamos musicalmente só a música importa. Ela é que dita o que faz mais sentido, o que deve ser cruzado, explorado etc. O que nunca pode acontecer é a música ser feita para replicar um estilo, uma banda ou um tema que gostemos. Temos como ambição desenvolver uma sonoridade KRONOS. É esse o nosso horizonte. Aliás, se não fosse esta a nossa meta, o nosso esforço tornar-se-ia um exercício anárquico e esquizofrénico sem qualquer tipo de direcção. De Rammones a Slayer, passando por Tony Carreira, há muitas referências que são diferentes e que não podem ser utilizadas em estado puro.
Utilizam o português, inglês, francês e mesmo alemão para se expressarem. Porquê o recurso a diversos idiomas ?
A língua, que é um recurso extremamente rico e poderoso, é entendida por nós como mais um instrumento que pode e deve ser explorado para enriquecer a nossa criação musical. Tal como se usa distorção, sintetizadores ou qualquer outro tipo de efeitos para se conseguir atingir e expressar uma certa sonoridade, também a língua dever ser explorada para enriquecer a música que fazemos. O português, apesar de em termos fonéticos e de métrica nem sempre ser fácil de trabalhar, é uma língua muito forte, rica e sobretudo muito requintada do ponto de vista poético. Quando resulta bem, é avassalador. As línguas têm musicalidades próprias; têm uma plasticidade muito bela e singular. O caso do francês é um exemplo paradigmático disso mesmo. Enfim, todas têm coisas boas para oferecer, desde que sejam minimamente trabalhadas. Nunca nos devemos resignar, por uma questão de hábito, ao uso do Inglês (que é uma língua que usamos e apreciamos), porque no limite podemos resvalar para o exercício estéril de estarmos a escrever vacuidades, de não termos nada de concreto para dizer e embrulharmos esse vazio na pompa e circunstância das fórmulas repetidas.
Apesar de se escutarem temas com grande parte cantada em português não há um único título de música na nossa língua. Porquê essa opção ?
Essa constatação é correcta, mas na verdade é algo que é meramente casual, isto é, aconteceu assim porque calhou. De forma mais concreta, isso aconteceu assim com os temas da maquete porque as músicas assim o sugeriram. Os títulos e as letras nunca pré-existem às músicas. São sempre feitas em função de determinada música, que pelo facto de ter uma determinada sonoridade, um determinado ambiente, de remeter para um certo imaginário ou de nos sugerir alguma forma de intensidade emocional, acaba por condicionar em grande medida aquilo que nos faz sentido explorar do ponto de vista lírico. É por isso que por vezes começamos em Inglês e depois passamos para Português, ou começamos em Português e acabamos em Francês, por exemplo. Nas nossas novas músicas, que vamos começar a tocar nos próximos concertos, já temos dois títulos em português. Aliás, uma delas é totalmente escrita na nossa língua.
As vossas letras parecem-me algo doentias. Podes falar um pouco melhor sobre elas ? Onde buscam inspiração para as escrever ?
Não sabemos se as nossas letras são doentias, mas temos a consciência de que são viscerais e intensas. Não são, de todo, um hino à felicidade, mas também não procuramos vomitar a brutalidade gratuita e niilista do caos e da destruição. Nesse sentido, pensamos que as nossas letras podem ser vistas como fragmentos do nosso imaginário interior. São um reflexo das tensões e dos dilemas da condição humana, ou seja, são fragmentos que traduzem a complexidade e a contradição dos sentimentos inerentes à própria existência. Viver não é fácil, gerirmos a nossa existência com os outros é um assunto dos mais complicados e inevitavelmente irresolúvel. Todos procuramos alguma forma de plenitude, mas também experimentamos a frustração, a desesperança, a impotência e a raiva de nem sempre o conseguirmos o que procuramos ou de sermos esmagados por obstáculos que nos reduzem à insignificância. Somos seres sociais e simbólicos, por isso vivermos é um exercício com uma infinita complexidade. Andamos há milhares de anos às voltas com estas questões, a torturarmo-nos com as mesmas inquietações, dúvidas, medos, ambições, sonhos, etc. Os antigos filósofos gregos já disseram as coisas mais sábias, contudo as respostas continuam a ser incompletas e fragmentárias. Há milénios que tentamos decifrar o mistério da existência e dos seus múltiplos e opacos sentidos. No nosso caso, é óbvio que não procuramos dar respostas, mas através da música deixamos fluir as nossas emoções traduzidas em prosa poética. De futuro, talvez exploremos temáticas mais conceptuais.
Qual a tua opinião sobre o panorama português no que diz respeito ao Gótico e ao Industrial ? Achas que se poderá construir uma carreira sólida no nosso país tocando este tipo de música ?
Parece-nos que nos últimos anos voltou a haver uma explosão de bandas provenientes de estilos mais pesados e alternativos, tal como também se têm vindo a multiplicar circuitos onde é possível ter alguma exposição, indo assim ao encontro de um público que é cada vez mais vasto, exigente e eclético. Há bandas e projectos interessantes a aparecer, o que mostra, sem sombra de dúvidas, que há muita gente com óptimas ideias e com bastante talento. No caso concreto do Industrial, consideramos que é um território relativamente vasto que é susceptível de ser explorado em múltiplas vertentes, um pouco como aconteceu com o Gótico quando foi apropriado pelas sonoridades mais próximas do metal. Há hoje muitas bandas que criam nessa fronteira, que pouco tem a ver com as raízes primordiais do rock gótico. Ainda bem que assim é. Há espaço para todos. Para os revivalistas e para os que querem subverter as regras do jogo criando coisas novas. Em relação a Portugal, pelas conhecidas razões do nosso atraso estrutural em praticamente todos os campos, as condições não são as mais propícias para a construção de carreiras sólidas nestes estilos. Temos o já clássico exemplo dos Moonspell, a menor escala os Phantom Vision, os Bizarra Locomotiva e talvez pouco mais. E mesmo assim são exemplos de que nos orgulhamos pelo que valem lá fora, não pelo que (infelizmente) não têm oportunidade de mostrar no nosso país. As coisas estão formatadas para outros géneros e públicos.
Poderemos ver os Kronos ao vivo ? Para quando ?
Vamos dar o concerto de apresentação na nossa maquete no próximo dia 28/7 no Culto Bar em Cacilhas, com os The Chapter na primeira Parte. Por enquanto é tudo o que temos, até porque esta altura é um pouco complicada para marcar concertos. Depois deste, talvez só em Setembro. Há alguns contactos feitos e algumas possibilidades em aberto, mas nada de concreto. Infelizmente não tocamos com a regularidade que gostaríamos e ainda não encontrámos um público que nos reconheça, acompanhe e apoie. Talvez isso possa acontecer em breve. Temos um apetite voraz para tocar ao vivo, agora é só esperar que os contactos surtam efeito e que haja pessoas interessadas em ouvir-nos ao vivo.
Últimas palavras…
Muitos parabéns pelo excelente trabalho e pelo importante esforço que a OPUSKULO e outros meios e pessoas dedicadas à divulgação e promoção da música mais pesada e alternativa em Portugal, têm feito. Entretanto, e na medida das vossas possibilidades, ajudem-nos a chegar ao disco de platina (risos).Esperamos que não faltem oportunidades para nos cruzarmos por aí.
Os KRONOS são uma banda que se formou no início de 2004 a partir da vontade de dois membros dos já extintos Uber Mannikins (um projecto de rock industrial de Vila Franca de Xira) em encontrarem novos elementos para a construção de um projecto musical que permitisse explorar e ampliar ideias e abordagens musicais inovadoras. O encontro com os outros dois membros (com um percurso musical marcado pelo anonimato das bandas de garagem), permitiu concretizar este objectivo principal, e desde essa altura, todo o esforço e investimento criativo tem sido dirigido no sentido de criar e alargar, a partir das fusões que se entendam relevantes, uma sonoridade que nos agrade e, sobretudo, que não seja refém de estilos ou rótulos estanques.
Que tal a aceitação a «Symbolon», a vossa maquete de estreia ?
Até agora temos a impressão que a maioria das pessoas que ouvem o nosso som ficam positivamente impressionadas. Temos recebido alguns ecos elogiosos no myspace e temos tido boas críticas à nossa maquete em alguns blogs de música. Ao vivo importa dizer que a situação é um pouco paradoxal, dado que até agora a maioria dos nossos concertos tem acontecido no âmbito dos concursos de música (que nunca ganhamos), o que significa que o público (que é heterogéneo e indistinto) e os júris tendem a revelar alguma estranheza e incompreensão relativamente ao nosso som, mas curiosamente recebemos sempre as palavras mais positivas da parte das outras bandas, mesmo quando praticam sonoridades bastante distantes da nossa. Pensamos que reconhecem alguma originalidade no som que praticamos, e apesar da diferença das linguagens, não hesitam em manifestar o seu agrado em relação à nossa música.
Musicalmente apresentam sonoridades que vão desde o electro-Goth, Industrial e mesmo o Metal. Acham que essa mistura estilística poderá gerar alguma confusão no ouvinte e acabar por o afastar da vossa música ?
Essas fusões estilísticas são inevitáveis, e indispensáveis, no nosso processo criativo. Temos a clara consciência que não é fácil para qualquer ouvinte apreciar e entender a nossa música, mas isso não constitui nenhum drama, porque se fosse para ganhar dinheiro teríamos feito uma banda de bailes. Claro que isto não significa que a nossa música seja dirigida para um reduto de eruditos ou de melómanos fervorosos, mas para nós é relativamente óbvio que é necessário algum ecletismo e alguma maturidade para compreender o nosso som. É um compósito de muitas influências e de muitas linguagens. Quem ouve música por genuína fruição, sem estar preocupado em ser fiel a um determinado estilo, acabará por encontrar pontos de contacto que lhe agradem. Por essa razão, e uma vez que não fazemos música para as massas, nem música por encomenda, só se deverá aproximar da nossa música quem a entender e apreciar. Quando isso acontece é uma honra e uma satisfação.
Especificaram algum público-alvo ou esperam abranger um largo espectro de ouvintes e apreciadores ?
Por uma questão de coerência aos nossos princípios, somos contra a ideia de dirigir a nossa música para um público-alvo específico, pois isso seria contraditório com o nosso entendimento da música e com o nosso compromisso criativo. É claro que pelo facto de termos uma sonoridade pesada, intensa e soturna, o nosso público potencial acaba por se encontrar nas fronteiras entre o Gótico, o Industrial, o Metal, o Electro e o Alternativo. Mas dentro destes géneros há muitas pessoas com um espírito aberto e cosmopolita em relação à música, por isso pensamos que a nossa potencial mais-valia se encontra nessa capacidade de agradar aos públicos que se encontram nestas fronteiras estilísticas. O espectro poderá não ser o mais alargado de todos, mas como já foi dito o mais importante é encontrarmos um público que entenda e aprecie a nossa linguagem.
Suponho que tal heterogeneidade reflecte os gostos musicais e influências distintas dos vários elementos dos Kronos. É fácil conciliar tudo isso ?
Efectivamente, essa heterogeneidade é o resultado directo dos vários gostos e dos distintos percursos musicais dos elementos de KRONOS. No entanto, a síntese dessas múltiplas referências acaba por ser um processo bastante natural e nada complexo. É curioso, mas praticamente nunca falamos de música nem trazemos para a sala de ensaios discos das nossas bandas favoritas. Há determinadas bandas que uns gostam, outros não e ás vezes acontece não conhecermos certas referências que algum de nós apresenta. Quando compomos apenas estamos concentrados na sonoridade que queremos explorar para determinada música, sem qualquer complexo quanto ao facto de ela nos poder remeter para determinado território que não nos seja o mais familiar de todos. Todos nós temos as nossas influências bem incorporadas e quando dialogamos musicalmente só a música importa. Ela é que dita o que faz mais sentido, o que deve ser cruzado, explorado etc. O que nunca pode acontecer é a música ser feita para replicar um estilo, uma banda ou um tema que gostemos. Temos como ambição desenvolver uma sonoridade KRONOS. É esse o nosso horizonte. Aliás, se não fosse esta a nossa meta, o nosso esforço tornar-se-ia um exercício anárquico e esquizofrénico sem qualquer tipo de direcção. De Rammones a Slayer, passando por Tony Carreira, há muitas referências que são diferentes e que não podem ser utilizadas em estado puro.
Utilizam o português, inglês, francês e mesmo alemão para se expressarem. Porquê o recurso a diversos idiomas ?
A língua, que é um recurso extremamente rico e poderoso, é entendida por nós como mais um instrumento que pode e deve ser explorado para enriquecer a nossa criação musical. Tal como se usa distorção, sintetizadores ou qualquer outro tipo de efeitos para se conseguir atingir e expressar uma certa sonoridade, também a língua dever ser explorada para enriquecer a música que fazemos. O português, apesar de em termos fonéticos e de métrica nem sempre ser fácil de trabalhar, é uma língua muito forte, rica e sobretudo muito requintada do ponto de vista poético. Quando resulta bem, é avassalador. As línguas têm musicalidades próprias; têm uma plasticidade muito bela e singular. O caso do francês é um exemplo paradigmático disso mesmo. Enfim, todas têm coisas boas para oferecer, desde que sejam minimamente trabalhadas. Nunca nos devemos resignar, por uma questão de hábito, ao uso do Inglês (que é uma língua que usamos e apreciamos), porque no limite podemos resvalar para o exercício estéril de estarmos a escrever vacuidades, de não termos nada de concreto para dizer e embrulharmos esse vazio na pompa e circunstância das fórmulas repetidas.
Apesar de se escutarem temas com grande parte cantada em português não há um único título de música na nossa língua. Porquê essa opção ?
Essa constatação é correcta, mas na verdade é algo que é meramente casual, isto é, aconteceu assim porque calhou. De forma mais concreta, isso aconteceu assim com os temas da maquete porque as músicas assim o sugeriram. Os títulos e as letras nunca pré-existem às músicas. São sempre feitas em função de determinada música, que pelo facto de ter uma determinada sonoridade, um determinado ambiente, de remeter para um certo imaginário ou de nos sugerir alguma forma de intensidade emocional, acaba por condicionar em grande medida aquilo que nos faz sentido explorar do ponto de vista lírico. É por isso que por vezes começamos em Inglês e depois passamos para Português, ou começamos em Português e acabamos em Francês, por exemplo. Nas nossas novas músicas, que vamos começar a tocar nos próximos concertos, já temos dois títulos em português. Aliás, uma delas é totalmente escrita na nossa língua.
As vossas letras parecem-me algo doentias. Podes falar um pouco melhor sobre elas ? Onde buscam inspiração para as escrever ?
Não sabemos se as nossas letras são doentias, mas temos a consciência de que são viscerais e intensas. Não são, de todo, um hino à felicidade, mas também não procuramos vomitar a brutalidade gratuita e niilista do caos e da destruição. Nesse sentido, pensamos que as nossas letras podem ser vistas como fragmentos do nosso imaginário interior. São um reflexo das tensões e dos dilemas da condição humana, ou seja, são fragmentos que traduzem a complexidade e a contradição dos sentimentos inerentes à própria existência. Viver não é fácil, gerirmos a nossa existência com os outros é um assunto dos mais complicados e inevitavelmente irresolúvel. Todos procuramos alguma forma de plenitude, mas também experimentamos a frustração, a desesperança, a impotência e a raiva de nem sempre o conseguirmos o que procuramos ou de sermos esmagados por obstáculos que nos reduzem à insignificância. Somos seres sociais e simbólicos, por isso vivermos é um exercício com uma infinita complexidade. Andamos há milhares de anos às voltas com estas questões, a torturarmo-nos com as mesmas inquietações, dúvidas, medos, ambições, sonhos, etc. Os antigos filósofos gregos já disseram as coisas mais sábias, contudo as respostas continuam a ser incompletas e fragmentárias. Há milénios que tentamos decifrar o mistério da existência e dos seus múltiplos e opacos sentidos. No nosso caso, é óbvio que não procuramos dar respostas, mas através da música deixamos fluir as nossas emoções traduzidas em prosa poética. De futuro, talvez exploremos temáticas mais conceptuais.
Qual a tua opinião sobre o panorama português no que diz respeito ao Gótico e ao Industrial ? Achas que se poderá construir uma carreira sólida no nosso país tocando este tipo de música ?
Parece-nos que nos últimos anos voltou a haver uma explosão de bandas provenientes de estilos mais pesados e alternativos, tal como também se têm vindo a multiplicar circuitos onde é possível ter alguma exposição, indo assim ao encontro de um público que é cada vez mais vasto, exigente e eclético. Há bandas e projectos interessantes a aparecer, o que mostra, sem sombra de dúvidas, que há muita gente com óptimas ideias e com bastante talento. No caso concreto do Industrial, consideramos que é um território relativamente vasto que é susceptível de ser explorado em múltiplas vertentes, um pouco como aconteceu com o Gótico quando foi apropriado pelas sonoridades mais próximas do metal. Há hoje muitas bandas que criam nessa fronteira, que pouco tem a ver com as raízes primordiais do rock gótico. Ainda bem que assim é. Há espaço para todos. Para os revivalistas e para os que querem subverter as regras do jogo criando coisas novas. Em relação a Portugal, pelas conhecidas razões do nosso atraso estrutural em praticamente todos os campos, as condições não são as mais propícias para a construção de carreiras sólidas nestes estilos. Temos o já clássico exemplo dos Moonspell, a menor escala os Phantom Vision, os Bizarra Locomotiva e talvez pouco mais. E mesmo assim são exemplos de que nos orgulhamos pelo que valem lá fora, não pelo que (infelizmente) não têm oportunidade de mostrar no nosso país. As coisas estão formatadas para outros géneros e públicos.
Poderemos ver os Kronos ao vivo ? Para quando ?
Vamos dar o concerto de apresentação na nossa maquete no próximo dia 28/7 no Culto Bar em Cacilhas, com os The Chapter na primeira Parte. Por enquanto é tudo o que temos, até porque esta altura é um pouco complicada para marcar concertos. Depois deste, talvez só em Setembro. Há alguns contactos feitos e algumas possibilidades em aberto, mas nada de concreto. Infelizmente não tocamos com a regularidade que gostaríamos e ainda não encontrámos um público que nos reconheça, acompanhe e apoie. Talvez isso possa acontecer em breve. Temos um apetite voraz para tocar ao vivo, agora é só esperar que os contactos surtam efeito e que haja pessoas interessadas em ouvir-nos ao vivo.
Últimas palavras…
Muitos parabéns pelo excelente trabalho e pelo importante esforço que a OPUSKULO e outros meios e pessoas dedicadas à divulgação e promoção da música mais pesada e alternativa em Portugal, têm feito. Entretanto, e na medida das vossas possibilidades, ajudem-nos a chegar ao disco de platina (risos).Esperamos que não faltem oportunidades para nos cruzarmos por aí.
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