quarta-feira, janeiro 28, 2009

em entrevista...CRYSTALLINE DARKNESS

De forma discreta mas extremamente sólida, parece estar a emergir em Portugal uma nova vertente da música extrema que tanto deve ao black metal como ao funeral doom, tudo envolto numa profunda angústia e palpável desespero do qual emana uma certa portugalidade. De entre os vários nomes que têm vindo a apresentar trabalhos bastante interessantes dentro deste espectro nos últimos meses, os CRYSTALLINE DARKNESS são um dos mais interessantes. A banda liderada por Demoniac mostra na estreia «Melancólica Nostalgia» uma apurada sensibilidade no momento de transformar em música todo um rol de sentimentos que o músico nos ajudou a descobrir na entrevista gentilmente cedida ao Opuskulo. Aqui fica o resultado.




Como estão a correr as coisas com «Melancólica Nostalgia»? As reacções excederam as tuas expectativas, tendo em conta que se trata de um trabalho de estreia?
Saudações Ricardo. Creio que a resposta tende a ser mais positiva que negativa. Acho que para uma banda de black metal portuguesa que ousou em ser sincera num forro bastante pessoal/intimo misturando ambientes que nem sequer considero metal, a resposta foi inesperadamente boa. Dos comentários com que me deparei sobre a demo, foram maioritariamente positivos, tendo alguns nos associado a algo mais que black metal (comparação com Mão Morta, por causa da voz) e terem dado algum valor ao facto de eu fazer vocalizações em português e usar alguns contornos pouco típicos face ao nosso black metal nacional. Eu nunca sequer pensei numa resposta face a este trabalho, visto que não é algo com que eu me preocupe nem o mesmo existe para agradar ou vencer por este underground fora. É apenas como um manifesto de dedicação ao underground que eu decido publicar os nossos trabalhos.

Os temas presentes em «Melancólica Nostalgia» foram criados há cerca de dois anos. O que podemos esperar das novas criações de Crystalline Darkness? Seguem a mesma linha?

Nesta banda não existem leis. Dito isto espero que seja claro para todos que farei com C.D. o que sair dos meus momentos de introspecção e de angústia. Não existe nenhum caminho, tanto posso fazer temas mais trabalhados e experimentais, como posso fazer algo primitivo a favor da emoção do improviso. Passado quase 1 ano do lançamento da nossa 1ª demo, deparo-me com algumas mudanças perante as novas músicas. As novas músicas têm uma participação vincada do Funeriis na bateria, dado que na primeira demo foi maioritariamente de improviso. Existem músicas que sofreram alterações por terem sido ensaiadas com os membros de sessão. Os nossos membros de sessão, não são mais que amigos chegados da banda, logo o ambiente da banda é respeitado e existe o espaço para a mudança. Crystalline Darkness é algo muito pessoal para mim, mas tenho aprendido a partilhar alguns momentos com os restantes membros da banda, sejam eles de sessão ou não. Odeio a mecanização de emoções e momentos, logo quanto mais natural for a reprodução do nosso som em palco, mais honesta será a nossa prestação. Para mim isso é tudo o que importa. Devo dizer que o facto de a banda ter começado a ficar activa em sala de ensaio e em palcos portugueses, mudou muito a minha prespectiva de como continuar a fazer música para C.D., descobri que posso ter mais tipos de musicas, sem serem aquelas que assombram a minha alma. Tenho desenvolvido as minhas capacidades musicais (a todos os níveis) e capacidade de comunicação com este mundo (que não é nada como o meu), ao ter ensaios regulares, jamais irei esquecer isto e esta catarse fez-me acreditar que bandas como Leviathan(US) / Burzum / One-man-bands, com “irmãos” poderiam alcançar outros terrenos que os mesmos jamais sonhariam. Sinto-me afurtunado por ter encontrado o Funeriis, Effrenus, Zametrião e o J. para partilhar a minha alma, a minha musica. Claramente não é algo fácil de arranjar e neste momento quero cair nesta ilusão, pois está a abrir-me alguns caminhos.

Em termos de sentimento e inspiração, «Melancólica Nostalgia» evoca uma marcada portugalidade, especialmente ao nível da melancolia da nossa cultura. Concordas? Onde bebes inspiração para a criação dos teus temas?

Os temas da 1ª demo (tal como muitos dos meus temas), nascem de momentos de grande dor/sofrimento. Eu gosto bastante de arte e para mim a melhor forma de arte é aquela que vem moldada do sofrimento. Quando sofremos não existem máscaras, não existem escudos que escondam o que realmente somos. Eu sinto-me bastante confortável na lama em que me encontro, faz-me sorrir perante a minha incerteza. Acho que o povo português é um povo sofredor. Carregamos na alma a dor que exprimimos no nosso fado. Somos por natureza tão fatalistas e desorganizados que estamos destinados a ter visões nos nossos momentos de queda diários. Portanto tenho que concordar contigo, Crystalline Darkness é uma banda muito portuguesa, com um espírito bastante antigo – claramente moldado por esta onda de depressão, claustrofobia, dor e caos que abafa o Séc.XXI. Estamos em queda ascendente e não pretendemos parar.

Concordas se eu disser que está a formar-se em Portugal um movimento de black metal muito próprio e inspirado nessa dita melancolia e desespero da alma lusa? Para além de C.D., nomes como Inverno Eterno, Nox Inferi, D.O.R., Ars Diavoli, entre outros, têm aparecido com trabalhos extremamente interessantes.
Sim, o nosso underground anda cada vez mais interessante. Talvez por estarmos a aprender a soltarmo-nos. Somos pequenos, somos frágeis e vivemos num país miserável. Está na altura de marcarmos de novo a música com o nosso espírito, que eu considero quase único no planeta. Acho que passados quase 20 anos de black metal em Portugal estamos realmente a mostrar o nosso black metal lusitano. Falando por mim, tenho andado estarrecido com trabalhos de Inverno Eterno, Pestilência, Morte Incandescente, Black Howling, Cripta Oculta, Onirik, Flagellum Dei entre alguns mais. Só tenho pena de não existir uma união neste país referente ao black metal. Continuo a achar os concertos bastante ignorados juntamente com os lançamentos (especialmente demos). Por mim tudo bem, mas compreendo bastante o lado das editoras/distribuidoras. Felizmente não é só o Black Metal a desenvolver-se em Portugal, vejo grandes mudanças no mundo do Doom e noutros mundos fora do Metal (como o Rock experimental/psicadélico).

Achas que esse movimento tem potencial para afirmar-se e consolidar-se internacionalmente?

Como em todo o lado existem bandas muito boas, boas, más e muito más. O unico factor que temos contra nós é a localização e a nossa fama de estarmos constantemente banhados em temperaturas tropicais de norte a sul do país (como se isso fosse sinal do quer que fosse). Acho que temos potencial para desenvolver, mas ao mesmo tempo temos bandas que já se encontram bastante confortáveis no antro onde se deparam. É preciso saber respeitar isso. No nosso caso, apenas queremos mais meios para investir noutros tipos de lançamentos e a possibilidade de cuspir ódio em palco(algo que surpreendentemente achei terapeutico), o resto é me igual. Duvido que algum dia tenha a possibilidade de viver da minha musica honesta e despida de preconceitos. Considero isso uma utopia banida por esta sociedade de parolos, que para sobreviverem vendem-se ao próximo.


Gravaste recentemente um split com Pestilência. Fala-nos desse trabalho. O que propões com ele e como o podemos obter?
Este lançamento que se avizinha, denomiado “Delírios” (split com Pestilência/Crystalline Darkness) será um misto da 1ª demo e o nosso lado mais experimental. Algo que nos saiu naturalmente, mas claramente diferente em alguns aspectos do material exposto anteriormente. O split será lançado pela Mistress Dance Records em tape limitado a 500 cópias e em vinil (está previsto para meados de 2009). Encaro este split como um processo de amadurecimento para o material que temos adiado em gravar para a nossa 2ª demo, que por sinal será bastante vasta (principalmente por eu querer que ela marque uma fase de mudança que aconteceu durante este ano 2008). Uma mudança que se avizinha no material futuro de Crystalline Darkness é a presença do Effrenus (de Pestilência) no baixo. O Effrenus foi o baixista de sessão no nosso concerto de estreia, eu mesmo dei-lhe carta branca para ele improvisar as linhas de baixo no material da 1ª demo, o que deu outra dimensão ao material. Com o passar do tempo, eu e o Funeriis achamos que ele seria essêncial para C.D. e dado ele ser quase como um irmão para mim, foi uma escolha mais que natural. Contudo não pretendo deixar de compor ocasionalmente algumas linhas baixo. É conforme o momento em que as musicas são criadas, existem músicas de C.D. que têm uma estrutura muito dependente do baixo e eu respeito sempre aqueles momentos espontâneos de “visão” (como eu lhes chamo). Para quem espera alguma coisa de nós, nunca espere nada. Resumindo, este split é bastante especial. São duas bandas que partilham os mesmos membros em palco (de sessão e não só). São bandas que ao fim ao cabo, estão a crescer por caminhos diferentes, mas estão muito mais próximas que as pessoas possam pensar. O resultado é realmente o produto dos nossos delírios. Tendo tocado semanalmente os temas de Pestilência do split, no baixo, sinto-me bastante próximo destas composições, duvido que muitos entendam sequer a temática que abordamos. Este split é tão experimental (musicalmente), que arrisco a dizer que a nossa sinceridade será sufocada pela cegueira de muitos. Para obterem este split basta entrarem em contacto com a Mistress Dance Records (mistressdancerec@gmail.com) ou (como para qualquer lançamento da banda) para crystallinedarkness@gmail.com

Ao contrário de outras bandas do género, os C.D. acedem em dar entrevistas e divulgar o seu trabalho. Que importância dás a imprensa na divulgação do teu trabalho e como encaras essa atitude de um certo isolamento de algumas bandas?

Eu só tenho que ter respeito, por aqueles que decidem afastar-se do ruído caótico, da sociedade em que nos encontramos. Por vezes ao expor os meus sentimentos de tal forma na minha música e a mesma ser de “fácil acesso”, sinto-me um bocado sufocado por opiniões que nada me dizem. Hoje em dia pouco nos serve conseguirmos ignorar o ruído de outras pessoas, pois as mesmas já não se contentam em gritar, as mesmas acabam por colidir connosco no nosso dia a dia e temos que acartar com o peso delas. O dito peso existencial. Contudo faço isso, dado que acho quase impossivel uma banda ser clandestina nos dias de hoje, eventualmente acaba por cair na boca de alguém. Já que vou ser exposto, prefiro ser eu a liderar a minha exposição e aproveito a mesma para vincar o meu sufoco, perante os que me sufocam. Muitos levam a nossa atitude a mal e acham que queremos ser alguém por isso. Claramente que me estou nas tintas para isso, apenas quero fazer a minha musica em paz e ter a capacidade de a ter em contentores analógicos que respeito.

Apesar de todas as vantagens que a tecnologia nos trouxe, o movimento underground digno desse nome parece estar a recuperar fôlego e adeptos. Sentes isso? Como explicas esse facto?
Acho que quem realmente ama arte, não se contenta com uma simples fotocópia. Hoje em dia existem maiores auto-estradas de divulgação de informação. Eu encaro isso como algo bom. Todos os dias ouço bandas que muito possivelmente jamais iria conhecer se esta auto-estrada não existisse. Claramente o ser humano encontrou uma maneira de estragar a honestidade desta acção e usa isto como desculpa para não gastar dinheiro (limitando este aos bolsos de outros manipuladores). Dizes que tem mais adeptos? Óptimo. É sinal que o underground está a vencer a doença, mas duvido muito que sobreviva ao desinteresse monetário de muitos no mesmo, por muito mais tempo. Senti isso ao ter lançado a minha 1ª demo, dado 500 cópias serem estipuladas a circularem durante 5 anos no underground mundial. Tudo na vida tem o seu equilibrio, creio que é essa a razão de ainda estarmos todos aqui. Daí não estar muito preocupado, pelo menos não muito mais do que estou enojado.

Formatos como a demo tape ou o vinil são cada vez mais procurados e transformados em objectos de culto. Achas que funcionam um pouco como uma contra corrente em oposição ao cd e, principalmente, mp3?

Eu considero o vinyl e a demo tape culto, por preservarem uma aura imperfeita do que é a musica e do quanto essa imperfeição molda o nosso dia a dia e amor para com a musica que nos alimenta. Quem lidou com cassetes ou vinis, sabe a atenção que tem de ter ao ouvir um lançamento desses e o amor que é necessário ter para com esse lançamento para o ouvirmos com calma durante muitos anos. Muitos veneram o CD e o mp3 pela sua versatibilidade e acabam por viver apenas disso, só posso sentir pena deles pois jamais entenderão o que é amar um album até determinado ponto. Não sou eu que falo, é o meu corpo, que é humano e a maneira como ele reage ao dia-a-dia do facilitismo. Todos sabemos que o que é fácil demais perde o interesse facilmente. Contudo também gosto de balancear as correntes da seguinte forma: Quando não estou muito atento (trabalhar, conduzir, teclar no meu computador) prefiro ouvir CDs e MP3’s...os álbuns que realmente amo, procuro sempre a versão analógica e rendo-me ao meu masoquismo de os querer absorver sempre que quiser neste formato. Infelizmente não consigo arranjar tudo o que quero, daí entender o crescimento do MP3. Acho que o MP3 teve um impacto tremendo no underground. O melhor exemplo disso é sobre as Les Legions Noire que por bem ou por mal acabaram por cair na boca do mundo. Eu sinto-me bastante grato por isto, dado ser quase impossível alguém da minha geração ter uma cópia original das LLN. Claramente isto tem as suas desvantagens. Eu mesmo me sinto enojado com a ignorância em torno desta legião. Creio que os mesmos preferiam ser náufragos do tempo e ignorados pelos humanos. É o dito equilíbrio que falei em cima, daí andar a aprender a respeita-lo.

Colocarias alguma vez a hipótese de editar um trabalho de C.D. em formato mp3 para download?

Unica e exclusivamente não. Já acabei por partilhar uma faixa da 1ª demo para uma compilação (da Irmandade Metálica), mas não passou disso. Jamais seria capaz de criar algo, apenas para existir virtualmente. É esta a razão principal pela qual eu exponho o material de C.D., tanto eu como o Funeriis, Effrenus temos algum orgulho/contentamento (egocêntrico) em ver esse mesmo material exposto nas nossas estantes. Acho que a musica foi feita para ser acompanhada de uma capa/booklet, uma visão ilustrativa da aura da banda, naquela gravação. Uma das razões da mesma é o efeito que ela tem na pessoa que o segura. O valor aumenta. Não existe preço para o que temos nas nossas colecções. Enquanto o preço da minha colecção de MP3 é hipotético e claramente será comido pelo tempo. Ao menos os meus vinis e cassetes irão ser pó, pó esse que eu toquei e senti e passei alguns momentos a ler , re-ler e absorver a sua energia. Esta é a magia do underground, pena poucos entenderem isso.



Em estúdio são apenas dois elementos, como é a vossa formação ao vivo? Trabalhas com músicos contratados?

De momento somos três na fase criativa:
Demoniac – Composições, Guitarras, Baixo, Vozes, Letras, Percussão e etc...
Effrenus – Baixo, Percussão
Funeriis – Percussão, Bateria acústica.
Line-up ao vivo:
Demoniac – Vozes
Effrenus – Baixo
J. – Guitarra
Funeriis – Bateria
Zametrião – (não existe nome para o que ele é, digamos que ele não precisa de estar presente para existir em palco connosco).
O J. e o Zametrião, são amigos próximos da banda, estão connosco unica e exclusivamente para nos apoiar na nossa visão e darem-me espaço para me exprimir (sentiria-me demasiado preso a tocar um instrumento em palco).

O que podemos esperar de um concerto de C.D.? É fácil recriar em palco toda a angústia da vossa música?

Crystalline Darkness em palco é a materialização do nosso ódio e claustrofobia sonora. Creio que para nós é bastante simples recriar, pois recusamo-nos a recriar exactamente o que gravamos. Como disse anteriormente a honestidade é uma ferramenta muito usada pela banda e a mecanização de emoções não tem lugar no nosso palco. Respeitamos a estrutura da musica, mas muitos factores mudam em palco, começando pela liberdade do Funeriis na bateria, o Effrenus a improvisar no baixo e a minha voz perdida no meio de tanta catarse emocional. Esta é a razão pela qual eu adorei o nosso 1º concerto e decidi continuar a dar concertos com Crystalline Darkness. Dado a visão que eu tenho em cima do palco é perfeita para eu me banhar na minha própria musica. Estou rodeado de estranhos que nada me dizem e vejo nas suas pequenas variações genéticas faciais, semelhanças com as faces que me assombram e me tornaram no que sou hoje. O meu ódio está todo ali, pois eles estão ali e irónicamente não estamos ali por ninguém a não ser por nós próprios, mas jamais estariamos sem a presença de terceiros( o dito equilíbrio da vida, por mim referido em cima).

As letras em português são outra característica que define muitas das novas e excelentes bandas de depressive black metal que têm aparecido por cá ultimamente. Achas esse um factor indissociável da vossa música?
Eu tento ao máximo fugir a rótulos. Acho que uma banda deve ter rótulos por lançamento, não rótulos que simbolizem o que fizeram/fazem/irão fazer. Acho isso algo que corta as asas à verdadeira arte que é fazer musica. Eu escrevo em português, porque é a língua que me vai na alma e no coração. Ao escrever em inglês posso estar sujeito a algumas camadas de mim, que não desejo deparar-me com mais tarde (camadas humanas dispensáveis). Contudo não meto de lado a possibilidade de escrever em inglês, é uma língua que tem o seu dito magnetismo... magnetismo esse que me fez criar o nome Crystalline Darkness. O ambiente de C.D. é depressivo, mas não só, muitos irão descobrir isso neste split com Pestilência.

O que podemos esperar de C.D. após este split? Há algo mais na manga para breve?

Sem contar com os 20m usados neste split, temos por volta de 90-100m de música para gravar e lançar. Cada grupo de musicas é distinto o suficiente para encaixar em diversos lançamentos. Temos planos para os expôr em 2009, mas naturalmente não temos grande controlo sobre isso, especialmente querendo ter algum tempo para mim, para recuperar do desgaste emocional dos concertos e das horas criativas que tive com C.D. este ano, que não foram poucas. Estamos aqui para ficar, enquanto eu respirar o meu corpo irá sentir-se sufocado pela sociedade que o rodeia e fascinado por este ódio em viver (irónico não é ?), logo C.D irá existir até eu morrer. Como já referi agora como esta mudança da actividade da banda (ao vivo, ensaios) a banda irá ganhar ainda outra dimensão e estou curioso para a sentir, é para isso que aqui estou, para sentir......nada mais!

“Let yourself rot in this fake twilight of happiness”

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