quinta-feira, dezembro 15, 2005

Em entrevista...THE FIRSTBORN


«The Unclenching of Fists» marca o regresso dos The Firstborn às edições discográficas e é já um disco emblemático do ano 2005 e do últimos anos do Metal nacional. A Opuskulo falou com o vocalista, e principal mentor do projecto, Bruno Fernandes no sentido de desvendar os segredos deste novo disco e de uma banda que, cada vez mais, parece ter nascido no país errado...
Os The Firstborn dispensam apresentações…sendo assim começo logo por te perguntar como têm sido as reacções a este “The Unclenching of Fists” tanto por cá como lá fora ?

As reacções têm sido, geralmente, muito boas... exceptuando um ou outro caso, pontual, em que me pareceu que a pessoa nem ouviu o disco uma vez. Tendo em conta que não é um trabalho que se apreenda apenas com uma audição integral, dificilmente se poderia esperar, nesses casos, uma opinião favorável ou, pelo menos, devidamente formada. Não obstante, e o que é realmente importante, creio que as pessoas que compraram um exemplar do álbum não se arrependeram de o fazer... e prezo mais essas opiniões do que as de qualquer “jornalista” que recebe 90 promos por dia.

Pessoalmente parece-me que este novo disco está um pouco à frente no seu tempo e talvez não seja devidamente apreciado actualmente. Concordas ?

Sim, essa era uma ideia que eu tinha antes da sua edição, mas as opiniões têm sido tão favoráveis que, sinceramente, já não tenho tanta certeza de que assim seja. No entanto, o passar dos anos o dirá... seria gratificante deparar-me com pessoas a “descobrirem” o “The Unclenching of Fists” daqui a dois ou três anos, ou até mais. Tendo em conta a minha opinião pessoal de que toda a grande música é verdadeiramente intemporal, nada me satisfaria mais...

Os The Firstborn, apesar de se enquadrarem no espectro Black Metal, são muito mais do que isso. Fala-me um pouco como decorre esta simbiose de influências que congregam nas vossas composições ? Em que se influenciam?

Basicamente, em tudo. Eu e o Paulo (guitarrista) compusemos este trabalho na sua quase totalidade, pelo que seremos os “culpados” pela sua orientação... o Paulo tem influências maioritariamente “old-school”, principalmente Thrash e Speed Metal antigo, bem como algum Death e Black Metal. Eu comungo das mesmas influências, juntando a isso um maior acompanhamento do que se vai produzindo, e um gosto crescente por World Music, que incorporei na nossa sonoridade. Assim, e resumindo, esta amálgama de influências moldou-se ao conceito que elaborámos para “The Unclenching of Fists”, sendo que procurámos “ilustrar” musicalmente os diversos momentos descritos nas letras, que incluem uma vastíssima gama de emoções e conduziram, portanto, a uma igualmente vasta gama de sonoridades.

A nível lírico parece-me que trilham caminhos igualmente originais e distintos da maioria das bandas de Metal extremo. Queres falar-me um pouco do conceito que está por detrás da música dos The Firstborn ?

Actualmente, e após um período de experimentação e indefinição (caso do disco anterior, “From The Past...”), abordámos o universo cultural oriental, particularmente a sua vertente filosófica e religiosa, numa das suas mais místicas vertentes, o Budismo Tântrico. O que inicialmente surgira como uma preocupação estética em adoptar novas sonoridades e misturá-las com a nossa própria música, desenvolveu-se numa necessidade de aprofundar e estudar todo este “mundo”, o que se reflecte no conteúdo lírico de “The Unclenching of Fists”. Não obstante, esta abordagem foi ainda algo superficial, limitando-se ao “Livro dos Mortos” tibetano, que embora constitua uma obra axiomática desta expressão religiosa, é apenas uma pequena parte do que pretendo explorar, doravante.

Após a edição de «From the Past Yet to Come» os The Firstborn desapareceram e muitos acreditaram que tinham cessado funções (eu inclusive). O que originou essa pausa de vários anos ? A banda esteve realmente parada ou em risco de cessar funções ?

Creio que ao ouvir o “The Unclenching of Fists” se percebe facilmente que não foi um trabalho elaborado em um par de meses... estivemos parados cerca de um ano, e mesmo nesse período trabalhávamos, individualmente, em ideias para este álbum. Depois seguiram-se 3 anos de composição e mais um de gravação, foi um processo muito moroso dado envolver muita experimentação e o “desbravar” de territórios aos quais não estávamos minimamente habituados (e, em alguns casos, para os quais não estávamos preparados). Creio que nunca se pôs verdadeiramente em causa a continuidade do projecto, embora a vertente “live-band” tenha sido, efectivamente, posta de parte durante bastante tempo... e pode ser que o volte a ser, dada a miserável situação em que o panorama de concertos se encontra.

Quanto à vossa editora, optaram por firmar acordo com uma jovem editora nacional. Foi a única opção que tiveram ou foi a que acharam melhor ? Porquê a escolha ? Ambicionam já num próximo disco dar o salto para uma editora de maiores dimensões ?

Foi a única opção, até porque depois do interesse da ProCon não voltámos sequer a ponderar procurar editora para este disco... além de assim lidar com pessoas que conheço há largos anos e em quem confio plenamente, creio que o trabalho por eles desenvolvido na Equilibrium Music fala por si. Os primeiros passos da ProCon são, obviamente, pequenos e ponderados, mas com perseverança, vejo nesta o potencial para se desenvolver e crescer, tendo a qualidade de cada lançamento como base de trabalho, ao contrário do que sucede com muitas editoras que procuram apenas o lucro fácil e imediato.

Ao longo de todos estes anos de luta nos meandros do underground nacional, como tens visto a sua evolução ? Achas que actualmente vivemos num clima bem mais favorável para as bandas portuguesas do que aquele que se vivia na altura em que editaram o vosso primeiro disco ? Que época preferes, o presente ou passado ?

São tempos diferentes... não gosto de me rever no papel do “veterano moralista”, pelo que me abstenho de grandes comparações. Hoje em dia existem, obviamente, facilidades que não existiam há uma década, como existirão outras tantas daqui a uns anos... essas facilidades são extremamente positivas pois permitem melhor divulgar os bons projectos, mas simultaneamente permitem inundar o mercado com uma tal quantidade de lançamentos de qualidade medíocre que muitas vezes esses mesmo “bons projectos” passam completamente despercebidos. Ainda assim, vejo muito mais qualidade geral no que se vai fazendo, maior profissionalismo nos aspectos sonoros e gráficos... mas, por vezes, perde-se um pouco a originalidade que em tempos caracterizava as bandas portuguesas. É muito ingrato comparar o passado e o presente, prefiro pensar no porvir.

Consideras que o facto de Portugal ser um país periférico a nível europeu continua a funcionar como uma “handicap” à evolução das suas bandas ?

Já o foi mais, como aliás a crescente quantidade de bandas underground de todo o mundo que por cá tocam parece provar... ainda assim, falta às bandas portuguesas a capacidade de se mostrarem nos palcos europeus, excepção feita a casos como os Lux Ferre, Necrose e GoldenPyre, que se vão regularmente aventurando por essa Europa fora. Essa exposição poderia conduzir a propostas mais interessantes de distribuição, e a uma maior exposição e interesse da imprensa e do público... mas são riscos muito grandes, e exigem bastante da vida pessoal e profissional de cada músico, pelo que é um pouco complicado à maioria dos projectos dar esse passo em frente.

A título de curiosidade, e uma vez que estamos no final de mais um ano, indica-me os 3 discos que merecem um maior destaque a nível internacional e 3 a nível nacional editado durante o corrente ano ?

- Primordial – “The Gathering Wilderness”
- Gojira – “From Sirius to Mars”
- Code – “Nouveau Gloaming”
- Filii Nigrantium Infernalium – “Fellatrix Discordia Pantokrator”
- Storm Legion - "The Eye Of The Prophet"
- Corpus Christii – “The Torment Continues”

Por onde passam os vossos planos a curto/médio prazo ?

Essencialmente, por gravar o próximo disco, em que já estamos a trabalhar, e conseguir editá-lo... isto se a “indústria discográfica” sobreviver até então! Depois disso, e se se proporcionar algo de interessante nesse sentido, tocar finalmente umas quantas datas pela Europa... pelo menos.

Últimas palavras…

Obrigado pelo contínuo interesse demonstrado neste projecto, ao longo de todos estes anos... espero que ambos prossigam por outros tantos. Aos eventuais leitores, espreitem o nosso site –
www.thefirstborn.net - ou o nosso perfil no MySpace (sim, toda a gente tem um...) – www.myspace.com/unclenchedfists - e oiçam os samples em mp3, caso ainda não o tenham feito.

“As trees bear fruit, may these words bear the fruit of a good karma.”
Entrevista por: Ricardo Agostinho

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