quarta-feira, abril 26, 2006

em entrevista...PAINTED BLACK

Praticamente desconhecidos no panorama musical nacional, os Painted Black são uma banda oriunda da Beira Interior que editou recentemente «The Neverlight», um EP de estreia promissor e apelativo a vasto espectro de apreciadores. O Opuskulo quis conhecer melhor esta banda e falou com o guitarrista Luis Fazendeiro...
Apresenta-nos os Painted Black…

Os Painted Black são um grupo de pessoas que usam a música para exprimirem sentimentos e estados de espírito. É este o verdadeiro objectivo e o propósito de existirmos. A banda foi formada no Verão de 2001, mas a génese das ideias para o projecto já remontavam ao ano de 1998. Desde a sua formação até aos dias de hoje, a banda passou por saídas e entradas de novos membros, tal como vários problemas em arranjar um local de ensaio fixo. Tivemos alguns períodos de total inactividade devido a estes factores, o que não ajudaram ao nosso crescimento e evolução, mas felizmente, desde o ano de 2005 que as coisas estabilizaram, e neste momento as nossas preocupações passam apenas em compor e promover a banda de todas as maneiras possíveis. Da formação de 2001 apenas me mantenho eu, o Daniel (vocalista) e o Telmo (baixo), e no ano passado juntaram-se a nós os irmãos Miguel e Rui Matos, na guitarra e bateria respectivamente, a completar a formação mais sólida que tivemos. Para os teclados contamos com a participação preciosa do Bruno Aleixo, que neste momento trabalha connosco como músico de sessão.

«The Neverlight» é uma estreia em termos visuais bastante auspiciosa. Até que ponto consideram importante uma banda transmitir não só uma boa impressão em termos musicais como também em termos de imagem?

A música é e será sempre o mais importante, como é natural, mas é importante que todo o trabalho gráfico que envolve um CD descreva e exprima o melhor possível os ambientes e sentimentos contidos na música. Falando por mim, quando penso num certo tema de uma banda, a imagem que me surge na mente, é a capa do álbum onde está inserido. Acho que acaba por ser inevitável essa associação, e até se pode fazer um paralelo com as pessoas. Quando pensamos em alguém, o primeiro que vem à cabeça é o seu rosto ou corpo. Por isso acho que a caixa, e tudo o que envolve fisicamente um CD, é o seu corpo, e este guarda nada mais do que a sua alma. É uma visão poética, mas penso que funciona na perfeição, ainda mais quando sentimos verdadeiramente que a música que registámos no CD, faz parte de nós e foi feita com sentimento.

Gravaram temas presentes neste registo de estreia em estúdios distintos. Porquê essa opção?

Basicamente foi tudo uma questão monetária. Gravámos o tema “DeadTreeSong” em 2003, no estúdio iSom em Alcains, com o objectivo de gravarmos mais temas para uma maqueta, os quais nunca foram gravados devido a factores de instabilidade na banda na altura. Quando a situação foi estabilizada, com a entrada de novos membros, decidimos finalizar o trabalho deixado para trás, mas em vez de uma maqueta de 3 temas, apostamos num EP. Tínhamos ideias suficientes, mas o dinheiro não abundava (nem abunda!), e decidimos gravar os temas que requeriam um trabalho muito mais cuidado no estúdio, e os restantes por meios próprios, com a ajuda de um amigo chegado a nós, que consideramos quase como família. Por isso na realidade o segundo estúdio que referimos no CD, não é um estúdio verdadeiro, foi apenas uma maneira de agradecermos e evidenciar o trabalho desse nosso amigo (primo Costa rules! ;) ).

Que tipo de condições e apoios existem para uma banda construir uma carreira na região de onde provêm, a Beira Interior?

Não existem! A resposta é directa mas sincera. A única atitude que podemos ter, é ir à luta, e fazermos as coisas por nós mesmos, sem estar à espera que as coisas nos caiam no colo. Penso que qualquer banda em Portugal, esteja onde estiver, tem de ter este espírito, ou nunca vai sair da sala de ensaios. Temos paixão naquilo que fazemos, todos gostamos de música, e se acreditarmos em nós próprios, temos que inevitavelmente fazer sacrifícios para podermos ir mais além. É tudo uma questão de trabalho, dedicação e agradecer e aproveitar todas as oportunidades que aparecem para mostrarmos a nossa música, e aquilo que nos vai na alma. Por vezes temos que ser nós a criar essas mesmas oportunidades.


Musicalmente falando nota-se uma certa heterogeneidade de influências musicais que acaba por resultar em temas algo díspares entre si. Todos os temas reflectem o mesmo estádio evolutivo da banda ou foram compostos e gravados em alturas distintas?

A disparidade que falas, é sem dúvida algo evidente, e que nós estamos cientes. Ao lançar um primeiro trabalho, quisemos mostrar da melhor maneira possível o nosso leque musical e os nossos extremos. Como referi na primeira pergunta, a nossa música reflecte o nosso estado de espírito, os nossos sentimentos mais íntimos e honestos, os quais exorcizamos através de um veículo, que é a música. Desde a génese do projecto, em que tudo o que existia era uma guitarra acústica e o contributo vocal e lírico do Daniel, que evidenciamos essa mesma disparidade de melodia e agressividade. Mas para nós foi sempre algo natural e nunca forçado, e tal como os temas mais melancólicos, que sem dúvida perfaziam a maioria do material, existia uma necessidade e vontade de explorar a agressividade. Para além desta razão, puramente visceral, existe também a consciência e a preocupação de não sermos uma banda linear, no sentido de estarmos sempre a criar o mesmo tema, mas com roupagens diferentes. Evitamos ao máximo repetir-nos, quer seja nas estruturas dos temas, ou neste caso que referiste, no uso do equilíbrio da melodia/agressividade. Não é por acaso que entre os 6 temas que perfazem o EP, apenas um se afaste dos restantes, no que toca a agressividade e peso. É algo que surge espaçadamente, e que até pode deixar de aparecer um dia, mas que nunca vamos relegar, ou colocar de lado. Faz parte da identidade da banda, e de nós. O que realmente importa, é que seja honesto e sentido.

Que rumo levarão os novos temas de Painted Black? Mais Doom e agressivos, mais Rock e melancólicos ou um misto dos dois?

Os temas que já temos preparados para um segundo registo, são um misto dos dois. Aliás, acho que esses quatro adjectivos que deste, nos definem bem: Rock, Doom, agressividade e melancolia. É nossa opinião que os temas novos estão mais coesos, e que o equilíbrio peso/melodia está melhor distribuído. Penso que existe uma evolução entre “the Neverlight” e o nosso próximo trabalho. No entanto, continua a existir a disparidade que falava anteriormente, que para nós continua a ser algo natural, e com a qual estamos completamente à vontade e acolhemos de braços abertos. Se todos os nossos planos se concretizarem, o nosso próximo trabalho irá incluir o tema mais pesado que alguma vez compusemos, tal como o mais melódico e “calmo”. Sabemos que para algumas pessoas não é fácil assimilar estes dois tipos de “ambientes” num mesmo registo, mas é o que poderão contar da nossa parte. Não somos uma banda brutal, nem temos essa pretensão, mas temos a nossa própria dose de agressividade. A melodia e a melancolia irão ser sempre parte fundamental na nossa música, tal como os sentimentos que queremos transmitir, mas tudo será criado naturalmente e fruto da inspiração e estado de espírito do momento.

Em termos de concertos julgo nunca ter tido conhecimento de nenhum cartaz com a vossa presença. É uma opção vossa não dar concertos ou simplesmente uma falta de convites para tal?

A verdade é que nós damos concertos, mas não tantos como desejaríamos. Ainda não conseguimos sair da nossa região, mas já estivemos presentes em 3 festivais, um dos quais os Moonspell estavam no mesmo cartaz, mas infelizmente fomos colocados num dia diferente, onde actuamos ao lado dos Blasted Mechanism e Tara Perdida. Já contamos com mais de uma dezena de concertos, com as habituais actuações em bares da zona, mas realmente nunca fomos convidados para actuar fora deste circuito. É nosso desejo actuar nos grandes centros do nosso país, como Lisboa e Porto, mas ainda não surgiram as oportunidades. A vida pessoal de cada membro da banda também não permite que estejamos sempre disponíveis para actuações, mas resta-nos tentar e esperar pelos convites e interesse no nosso trabalho.

Sentem-se de alguma forma prejudicados por se tratarem de uma banda praticante de um estilo contrário ao que a vossa região exporta com maior abundância, normalmente bandas mais dentro do Death e Black Metal brutal?

Nunca nos sentimos prejudicados por isso. Conhecemos pessoal de bandas mais extremas na região, como os Agonized e Necrose, e já estivemos presentes em concertos deles, como eles em actuações nossas. Acho que o facto de praticarmos uma sonoridade diferente deles, não nos afastou, pelo menos nunca o sentimos. Acho que quando há apreço e respeito mútuo pela música que cada colectivo faz, e sobretudo camaradagem, esses aspectos mais negativos nunca chegam a existir. É verdade que não temos conhecimento de mais nenhuma banda a praticar um estilo similar ao nosso na região, mas acho que Portugal é um país demasiado pequeno para se limitar uma região como exportadora específica de um determinado estilo. Pelo menos a nossa existência pode desmistificar um pouco isso, e nunca sentimos que fosse um impedimento para o que quer que fosse.

O que podemos esperar dos Painted Black a curto/médio prazo ?

Bem, já começámos a planear a gravação de um segundo EP para o Verão, por isso parte do trabalho que vamos desenvolver vai ser com esse objectivo em vista. De resto, se até lá não surgir nenhuma oportunidade para tocarmos ao vivo, esperamos que depois da gravação isso se concretize. Entretanto vamos continuar a divulgar e promover o nosso trabalho e a desenvolver novas ideias.


Últimas palavras….

Primeiro quero agradecer a todas as pessoas que até agora nos apoiaram e ajudaram. Também agradeço a disponibilidade do Ricardo e a oportunidade de responder a esta entrevista. Continuem a visitar o Opuskulo e a apoiar todos os meios de divulgação de música alternativa feita em Portugal! As pessoas que estiverem interessadas, visitem o nosso site para mais informações sobre a banda e para conhecerem a nossa música (www.paintedblack.tk). Obrigado e um abraço!

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