quarta-feira, novembro 29, 2006

em entrevista...CRADLE OF FILTH

Amados por uns, odiados por outros, os Cradle of Filth são já um nome incontornável na história da música extrema. Discos como «The Principle of Evil Made Flesh» e, principalmente, «Dusk…and Her Embrace» são marcos do metal dos anos 90, tendo influenciado dezenas de bandas um pouco por todo o mundo e criado todo um movimento no qual o gótico se entrelaçava com o black metal. Uma fórmula de sucesso que rapidamente afirmou a banda como um dos nomes mais populares e mediáticos da actual cena de peso, e como um ponto de passagem frequente a recém convertidos às maravilhas do metal mais obscuro. Com alguns altos e baixos na sua carreira – passando por inúmeras mudanças de formação, discos menos consensuais e uma experiência pelo mundo das multinacionais - os Cradle of Filth sabem reinventar-se e gerir e continuar uma história que já dura há 15 anos, sendo «Thornography» a mais recente prova disso mesmo. A poucas horas da banda subir ao palco do Paradise Garage em Lisboa, o Opuskulo, em colaboração com o programa de rádio Cessar Fogo, teve o prazer de falar com um simpático Paul Allender, guitarrista e figura incontornável na evolução e continuidade da banda britânica. Aqui fica o resultado…

Começava por te perguntar se estás satisfeito com o resultado de «Thornography»?

Sim, definitivamente. Penso que marca um passo em frente na evolução da banda. É um disco diferente de todos os outros em termos de sonoridade e penso que é o melhor que fizemos desde o «Dusk…and Her Embrace». As reacções, tanto de fãs como da imprensa, têm sido muito boas, o que nos deixa bastante satisfeitos.

Porquê «Thornography» como título? É uma palavra que pode ter várias interpretações, não achas?

Sim, sem dúvida. É um daqueles títulos que não significa nada de muito transcendente. Simplesmente tínhamos uma série de propostas para possíveis títulos do disco e achámos que «Thornography» daria um excelente título. Cabe a cada um interpretar o que quiser desse título, não significa nada em particular…

Nota-se no entanto uma certa conotação erótica neste título…

Sim, totalmente…o aspecto sexual é algo que tem estado sempre relacionado com Cradle of Filth…(risos)


Em termos de sonoridade, penso que este disco pende mais para o heavy metal mais tradicional do que propriamente para o black metal, especialmente em termos de melodia. Concordas?

Concordo totalmente. Este disco revela claramente onde estão as nossas raízes musicais enquanto banda, ou seja, cenas old-school como Iron Maiden, Judas Priest ou Motorhead e toda uma série de bandas thrash dos anos 80. Estas influências estão todas presentes neste disco, mais do que em qualquer outro.

No entanto, julgo que nunca se consideraram uma banda black metal..

Eu penso que nunca fomos uma banda de black metal, somos sim uma banda de metal extremo. Nós nunca soámos como Burzum, Dimmu Borgir e todas as bandas realmente black metal, nós sempre tivemos um som muito próprio ao qual apenas gostamos de chamar heavy metal com uma forte presença de teclados, blastbeats e riffs muito acessíveis e melódicos.


A voz do Dani Filth surge igualmente mais melódica neste disco. Isso foi fruto de uma evolução natural ou uma opção ponderada?

Penso que foi uma evolução natural. Nós sempre usámos a voz do Dani como mais um instrumento, e tendo em conta que a nossa sonoridade sofreu algumas alterações neste disco, a voz também sofreu algumas adaptações naturais que resultaram muito bem…


E mais dinâmicas…

Sim, sem dúvida…!

O teu trabalho de guitarra está igualmente mais melódico e dinâmico. Nota-se por aqui a influência de Iron Maiden…

Sim, assumidamente. Eu sempre gostei de guitarras mais melódicas e sempre criei muitas composições nesse sentido, simplesmente quando chegava a altura de aplicar esse trabalho a Cradle of Filth achava que não encaixava na sonoridade da banda e tinha de compor alguns riffs mais rápidos e brutais. Mas desta vez pensei: “Que se foda! Eu quero tocar cenas mais melódicas e é isso que eu vou fazer.” Podes encontrar neste disco harmonias muito influenciadas em Maiden e deixou-me bastante satisfeito o facto de recuperar essa influência e introduzi-la na sonoridade Cradle of Filth.

Sim…penso que este disco tem melodias que ficam mais facilmente na memória do ouvinte..

Sem dúvida, esse é um dos objectivos, ou seja, que as pessoas memorizem mais facilmente as nossas melodias e as possam entoar nos concertos.

Contam com a participação do Vile Vallo (Him) neste disco. Como se deu essa colaboração?

Na verdade foi ele que veio ter connosco e demonstrou vontade em participar num tema. Nós achámos boa ideia e enviámos-lhe um tema no qual ele poderia aplicar as suas vocalizações da forma que quisesse, no qual ele fosse ele mesmo, sem limitações da nossa parte. Quando nos enviou o resultado final agradou-nos bastante, resultou muito bem…

O baterista Adrian deixou recentemente a banda…o que aconteceu de facto?

Basicamente o que aconteceu foi que ele começou a fazer workshops de bateria, penso que para a Pearl, as quais começaram a ser cada vez mais e mais. Para além disso ele formou uma banda com a sua esposa e uma outra banda para além dessa, sendo que chegámos a um ponto em que lhe tivemos de perguntar: “ o que queres fazer realmente? Cradle of Filth ou essas outras coisas?”. E ele fez a sua escolha… (risos).

Têm já um substituto oficial para ele ?

Sim, temos o Martin, um excelente baterista da República Checa. Ele é mesmo um baterista fabuloso e ainda é novo, julgo que tem 25 anos, e é de facto fenomenal…aliás, vais constatar isso esta noite…(risos).

Como estão a correr as coisas com a Roadrunner? A vossa experiência com a Sony foi muito curta. Achas que editoras mais generalistas não conseguem promover uma banda de metal convenientemente?

O que aconteceu com a Sony foi que na altura que assinámos por eles, todas as editoras multinacionais estavam, por qualquer razão estranha, a assinar bandas associadas ao black metal. Nós nem sequer nos consideramos uma banda black metal mas pensámos, que se lixe, vamos experimentar. O «Damnation…» foi editado e o que se passou foi que eles não sabiam o que haveriam de fazer com o disco. Não sabiam promover-nos, não sabiam onde nos promover, não sabiam onde disponibilizar o disco, não sabiam que lojas vendiam este som, nem que revistas o promoviam…basicamente não sabiam nada! Após essa experiência, sentámo-nos, falámos entre nós e concluímos que não poderíamos continuar a trabalhar com a Sony pois isso iria arruinar a banda. Eles ainda nos abordaram para continuar, mas dissemos que a decisão era irreversível, que eles não fazem ideia do que é promover uma banda de metal. Acabaram por aceitar e deixaram-nos ir à nossa vida….

Defendes então bandas de metal em editoras de metal?

Sim, sem dúvida. A Roadrunner abordou-nos e as coisas estão a correr muito bem com eles.

Sei que fizeram algumas datas no Reino Unido com os lendários Sabbat na abertura. Parece que estão a querer mostrar aos vossos fãs mais novos que o metal não surgiu agora e que há clássicos fantásticos para descobrir…

Sim, absolutamente. Foi também por essa razão que fizemos um disco como o «Thornography». Há toda uma nova geração de miúdos que pensa que uma banda de heavy metal são os Trivium. Eu não penso o mesmo. Apesar de os conhecermos e respeitarmos, acho que o disco dos Trivium é um rip-off descarado de Metallica. O que eles fizeram foi pegar no que os Metallica fizeram na década de 80, dar-lhe uma nova roupagem e vender isso aos putos como se tivessem inventado alguma coisa. A maioria dos putos acredita nisso e nós achámos que isso é totalmente errado. Foi por isso que tivemos os Sabbat a tocar connosco, para dizer aos putos “vá lá, acordem!”. Quisemos mostrar as raízes dos Cradle of Filth, quisemos mostrar que os Metallica não começaram quando os Trivium começaram. Os próprios Metallica ou Megadeth não iniciaram nada, já havia coisas para trás. Queremos que os putos saibam que o metal já existe há muitos anos, não começou com os Trivium… (risos)

Eu penso que essa consciência já se está a formar. Vejo míudos de 14 ou 15 anos a comprar discos de Maiden e de Metallica…

Sim, concordo. É bom que esses míudos ponham a mão na consciência. Quando eu ouvi o último disco dos Trivium só pensei: “mas que merda de rip-off descarado”! (risos)

O que achas da vossa nomeação para um Grammy nos EUA ?

Foi fantástico. Tivemos alguns fãs que nos arrasaram com críticas por termos sido nomeados, o que não deixa de ser engraçado, uma vez que foram esses mesmos fãs que, ao comprarem o disco, fizeram com que fossemos nomeados (risos). Foram eles que nos puseram lá, não fomos nós que pedimos. Nunca pensámos que uma coisa destas acontecesse. Quando era puto sonhava em ter uma banda e ser nomeado para algo do género…e agora que aconteceu, custa a acreditar.

Esta é a segunda vez que visitam Portugal este ano. Parece que têm uma relação especial com o nosso país…têm cá imensos fãs…

Sim, ainda me lembro da primeira vez que cá toquei com Cradle of Filth, foi num festival em Penafiel. Lembro-me perfeitamente desse concerto, foi muito bom. Temos também os nossos grandes amigos Moonspell e sim, temos um carinho especial pelos fãs portugueses e adoramos cá voltar.

Penso que é tudo…algo a acrescentar.

Sim, claro. Quero agradecer aos nossos fãs em Portugal o fantástico apoio que nos têm dado e por nos ajudarem a chegar onde estamos hoje. Estamos muito gratos a todos os nossos fãs pela sua dedicação e esperamos ver-vos nos nossos concertos.

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