O stoner doom metal português tem um nome: DAWNRIDER. Este é o ano de afirmação de uma banda que tem na persistência e na honestidade as suas melhores armas, sendo «Alpha Chapter» o resultado de árduos anos de trabalho em prol de uma causa digna. F.J. Dias, o carismático vocalista dos Dawnrider e figura emblemática do underground luso acedeu a conversar conosoco.
Após alguns anos de luta no meio underground está finalmente editado o primeiro disco dos Dawnrider. Como se sentem em relação a isso? O esforço compensou?
Sim, claro. Estamos satisfeitos com o disco, foi o nosso cartão de apresentação o ano passado, o disco saiu já quase no fim do ano, em Novembro quando deveria ter saido no inicio do Verão, mas tivemos uma troca de elementos mesmo em cima da gravação, saiu um baixista e entrou outro que já não foi a tempo de aprender os temas para os gravar de imediato por isso o baixo foi gravado por um dos guitarristas, o Conim.
Este primeiro disco acho que é importante no sentido que marca uma lacuna no Metal até agora inexistente em Portugal. Como está a ser recebido «Alpha Chapter»?
Bastante bem, as reviews têm sido todas positivas, esperamos agora que a editora comece a mandar também o disco lá para fora pois somos uma banda que pode ser exportável, embora este disco tenha sido mais dedicado ao publico português, no sentido em que a maioria do pessoal desconhece as bandas que são referência e inspiração para o colectivo, então presenteámo-los com duas covers (Amebix e Buffalo) e um tema dedicado aos pioneiros do Heavy Rock em Portugal, os Beatniks. Escolhemos trabalhar os temas menos Doom primeiro e deixar o material mais denso para o próximo álbum. Um grande impulsionador sem dúvida, têm sido os concertos, o pessoal chega lá e sai com vontade de comprar um álbum. Mas a experiência ao vivo, essa, é impossível de passar para disco.
O disco está a receber alguma exposição a nível internacional? Os vossos planos passam por aí?
Os nossos planos passam definitivamente por aí, agora nós sozinhos não podemos fazer muito, mas contamos com a nossa editora para o fazer. Posso-te dizer que o nosso Split EP de 2005 em vinil, as copias foram quase todas parar lá fora, foi um disco para o underground Doom/Heavy Rock europeu e americano.
Pode dizer-se que os Dawnrider são líderes e praticamente pioneiros de um estilo pouco divulgado em Portugal. Sentem o peso dessa responsabilidade?
Sim, mas não temos medo. O que bandas como os Beatniks e os Xarhanga fizeram nos 70's e o que bandas fizeram nos 80's como Xeque Mate e Vasco da Gama, traduz-se em nós, numa versão mais pesada, actual e mais vasta em influencias com uma identidade muito própria.
Acham que as mentalidades estão cada vez mais a abrir-se a este tipo de sonoridades retro ou permanecerão sempre confinadas a um reduto underground?
Eu vejo este tipo de musica não como retro mas como intemporal. Estou a ouvir o primeiro álbum de Atomic Rooster enquanto estou a responder às tuas perguntas, este álbum data de 1970 e é mais avant-garde Rock que muita merda que sai agora com o tag de "pós-Metal, pós-Doom, pós-isto-e-aquilo". O mercado está inundado de trends, toda a gente se passa agora com bandas que roubam inspiração no Rock alternativo/experimental e trazem essas influencias para o Rock mais extremo.Quando vejo uns Wolfmother na TV ou a tocar em festivais grandes, apercebo-me que esta porcaria do retro chegou ao ridículo de se tornar um trend. Em Inglaterra as revistas curvavam-se perante os The Answer, estas bandas para mim é só merda, copias bem planeadas sem personalidade de Zeppelin e Grand Funk...tirando os supergrupos do passado, que realmente cresciam com suor e trabalho árduo na estrada, desde inícios de 80's que para mim acabaram os supergrupos...desde essa altura que só se pode confiar no underground para se ouvir musica verdadeira. Até um gajo do Black Metal como o Fenriz (dos Darkthrone) cagou na cena que lhe deu dinheiro durante anos a fio e anda agora em Oslo a passar musica em clubes que vai do Hard Psicadelico de 70's, ao Garage Rock de 60's, passando pelo Punk e a NWOBHM, ora querem melhor exemplo que isto? "TRUE MUSIC IS FOREVER!", já dizia o grande Vic Vergeat dos TOAD.
Antes da gravação do disco registaram-se mudanças de formação, nomeadamente a saída do baixista Samuel. De que forma isso influenciou o resultado final do disco e o futuro da banda?
Não foi antes, foi mesmo a meio. O resultado foi que poderíamos ter um registo próprio de um bom baixista, mesmo que seja um bom guitarrista a tocar o baixo nunca é bem a mesma coisa. O registo é mais linear. De imediato arranjámos substituto, o Carlos, que já tinha tocado comigo nos No-Counts DOM, por isso não havia ao cimo da terra melhor pessoa para nos acompanhar nas 4 cordas! Recentemente também o Victor saíu, desta feita ocupando o lugar o André (ex-Shadowsphere, actual Theriomorphic e Wintermoon), que mais uma vez, foi uma substituição perfeita, não poderíamos estar mais contentes, até pelo facto que também o André tocou com o Carlos há uns anos, no inicio de Brainwashed by Amalia, que já agora os menciono como a primeira banda "Stoner Rock" em Portugal...sei que este rótulo é manhoso e o Carlos não gosta, mas é só para não se esquecerem de que se existe uma cena Stoner (revivalista do Hard psicadélico), os B.B.A. eram pioneiros cá. Anda para aí o CD Split deles pelas lojas que eu editei há uns anos, podem-no comprar por 5 ou 7 euritos, aproveitem!
Como seguidor de longa data da evolução do metal e da cena underground em geral no nosso país, como encaras o estado das coisas actualmente?
A evolução é notória mas as mentalidades, enfim, deixam um bocado a desejar. Isto funciona como uma aldeia pequena, ainda bem que os Dawnrider não fomentam telenovelas, as nossas opiniões são frontais, as nossas ideias são bem claras, leiam as letras. A maioria de nós, crescemos nos 90's um pouco fora do que se passava no Metal porque isto é pessoal que não se indentifica com a cena dos 90's, nessa altura alguns de nós andávamos no Punk Rock e no Crust, eu e o Libe somos os mais velhos, já vimos dos anos 80 da cena Metal, mas nessa altura a onda era mais rebelde e crua, era giro, uma loucura teenager, havia muita marginalidade mas ao menos não haviam grandes telenovelas. Já agora devo mencionar que o Punk 90's em Portugal foi uma bela telenovela, os que mandámos para o caralho nessa altura, foram bem mandados.Achas que a Internet e todos os meios à disposição vieram trazer mais vantagens ou desvantagens à cena?Mais vantagens no sentido que agora um puto em um ano passa de Black Metal florestal a super-cromo do Doom ou do Sludge ou retro que o pariu. As pitinhas podem ser super-Punks com o cursinho ali todo no Soulseek. Um gajo que queria ser nerd musical agora tem 5000 álbuns que realmente não existem fisicamente de merda que nunca mais vai ouvir na vida, mas pode nas conversas dizer "eu tenho" , "eu conheço" , "isso é bom" ou "isso tá bué a frente!". Acho que neste pequeno exemplo se notam vantagens e desvantagens não é? No outro dia lia uma entrevista a um ilustrador conhecido onde ele dizia que pelo andar da coisa, qualquer dia deixam de haver cd's e ninguém vai aos concertos porque a net é o lugar onde devemos estar. Aonde foi parar a rebelião pergunto eu? Em casa a toda a hora na net não mudamos nada!! Menção honrosa a um fórum chamado Irmandade Metálica onde os seus maiores participantes são também ávidos consumidores de cds e vinil e vão a montes de concertos, são apoiantes verdadeiros da cena Nacional Metálica, se tens uma banda de Metal adere ao fórum, aqui vais ganhar apoiantes que realmente não são da boca-para-fora. Este colectivo de que me orgulho fazer parte tem feito muito pela cena...um festival, uma compilação (infelizmente virtual), uma fanzine, patches, tshirts...um caso raro de integridade e coração metaleiro.
Actualmente parece que a compra de discos e o coleccionismo é cada vez mais um luxo e um devaneio de melómanos. Como encaras essa situação? Achas que todo aquele espírito que se vivia há anos atrás irá irremediavelmente perder-se?
O problema são as novas gerações e como consciencializá-los. Realmente não sei, conheço putos de 20 anos com uma atitude impecável perante isto tudo mas são uma escassa minoria. De vez em quando surge a modinha do vinil, pessoal que compra uns disquitos e depois param. A minha geração não lanchava na escola para comprar um single passados 3 dias ou sei de gente que nem almoçava na escola para comprar LPs no fim de semana. Este tipo de guerreiros, muitos deles andam aí com 30 e tais em cima (outros até 40's) ainda no Rock pesado a dar cartas, a todos eles, o nosso respeito. Vocês sabem quem são, vocês são a raça, "SHOW 'EM HOW"!!
O que podemos esperar dos Dawnrider a curto/médio prazo? Há já planos para novas edições, concertos, etc..?
Este verão vamos começar a gravar o nosso segundo álbum, devemos voltar aos palcos só no fim do verão, em principio éramos uma das bandas que iam abrir os megaliticos CELTIC FROST mas o Thomas rompeu e a banda acabou com datas importantes penduradas. Gostávamos de poder abrir de novo os Orange Goblin em Setembro, mas ainda é incerto. Em breve também vamos participar numa compilação da Raging Planet um tributo ao Rock antigo nacional, nós obviamente vamos fazer uma cover dos Beatniks, de 1972, um tema super-Sabbath! Temos também um Mini album planeado de covers para 2009. E para já, "That's all folks"!
www.myspace.com/dawnriderdoom
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